segunda-feira, dezembro 24, 2007

Natal com Bethânia...

"Eu sei que atrás desse universo de aparências,das diferenças todas, a esperança é preservada.Nas xícaras sujas de ontem o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que não suporto ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas quero você agora! Eu te amo pelas tuas faltas, pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas. Amo o teu jogo triste e as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a tua alegria mesmo fora de si, te amo pela tua essência e te amo até pelo que você podia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te rebanhado nas águas do equívoco. Te amo nas horas infernais e na vida sem tempo... Te amo pelas crianças e futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e teus sonhos inúteis... Amo teu sistema de vida e morte, te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras e te amo desde os teus pés até o que te escapa. Te amo de alma para alma e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defendo quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis, quando o próprio amor vacila."

Por Maria Bethânia em Maricotinha - Autor desconhecido

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Jogo de palavras

Outro dia estava com alguns colegas brincando com palavras. Embora fosse minha primeira vez e desconhecesse as regras, fiz bonito! Eu estava em último lugar e na última rodada formei sobre o tabuleiro uma palavra de quatro letras que me rendeu pontuação recorde.

"Gozo é uma ilha no Mar Mediterrâneo, parte da República de Malta, e a segunda maior ilha em extensão territorial do arquipélago que forma aquele país. Tem área de 67 km² e população de 30.750 em 2003. Sua principal cidade é Rabat, também chamada Victoria. É uma diocese católica independente. A ilha tornou-se despovoada em 1551 quando toda a população de aproximadamente 6.000 habitantes foi escravizada por soldados otomanos e piratas muçulmanos." Fonte: Wikipédia



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E ao sul do Equador, eis uma outra ilha...

Sobradinho (BA): um pedacinho de terra cercada de interesses por todos os lados...



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Fome Zero - 22º dia


Greve de fome facilita o ataque de infecções

REPORTAGEM DA REDAÇÃO LOCAL


Infecções, perda do músculo cardíaco, alterações no sistema digestivo e problemas nas articulações. Essas são algumas das consequências que a greve de fome pode trazer para o ser humano. Segundo especialistas, desde que esteja se hidratando, o indivíduo que se submete ao jejum sobrevive até dois meses sem nenhum tipo de alimentação. No entanto, os resultados graves para a saúde são sentidos a partir do trigésimo dia.Quando uma pessoa pára de se alimentar, sem deixar de ingerir água, o gasto energético diminui de forma significativa, segundo o nutrólogo Durval Ribas Filho. "É o mecanismo de defesa do organismo", disse. Nesse período, o indivíduo fica mais exposto a infeccções e gripes.Desde o segundo dia de jejum, o corpo usa dois meios para obter energia, segundo o biólogo e professor de bioquímica médica da UnB (Universidade de Brasília) Marcelo Hermes-Lima. O organismo quebra proteínas dos músculos, que são transformadas em aminoácidos. No fígado, esses aminoácidos são convertidos em glicose. O fígado exporta a glicose para o sangue, que volta a alimentar os tecidos, principalmente o cérebro. Em paralelo, o corpo também usa a gordura do tecido adiposo para fornecer energia."Durante o período de jejum prolongado o indivíduo perde, em parte, a capacidade de absorção intestinal por falta de uso do tubo digestório", disse o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Osmar Monte. (AFONSO BENITES E LARISSA GUIMARÃES)




"Acusam-me de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do rio São Francisco. "
(Dom Luiz Flávio Cappio, carta publicada na Folha de São Paulo há alguns dias...)

quinta-feira, dezembro 06, 2007

São Francisco e vovó

"É uma agressão tremenda", disse ele, "já que faz parte do instinto humano a preservação da vida. Só tendo uma convicção espiritual muito forte podemos vencer o instinto. Os quatro primeiros dias são insuportáveis e muito dolorosos porque se tem a expectativa do organismo pelo alimento que deve receber, que vem de fora. Depois disso o organismo está psicologicamente preparado, pois sabe que não vai receber nada e passa a se autoconsumir. Você não sente tanto a necessidade do alimento, mas o enfraquecimento é visível e cada vez mais você percebe a debilidade em seu corpo. Começa a faltar a memória e aparecem as dificuldades de se locomover. Depois fiquei sabendo que, pelas previsões médicas, eu agüentaria apenas mais dez dias."

Trecho da entrevista de dom Luiz à revista "Estudos Avançados" da USP ("O São Francisco, a razão e a loucura", jan./abr./ 2006, www.iea.usp.br/iea/revista) sobre sua primeira greve de fome para sensibilizar o governo a rever o projeto de transposição do Rio São Francisco.


Fracassado em sua primeira tentativa, dom Luiz iniciou há 10 dias uma nova greve de fome, promentendo chegar às últimas conseqüências em defesa do São Francisco.


***
Conversas com vovó...
Relembrando seus tempos de escola, vovó mostra que sua memória está bem viva! Com seus 80 e tais anos, ela guarda decoradinho o trajeto do São Francisco. E declama, como poesia ou tabuada:
- Nasce na serra da Canastra em Minas Gerais. Atravessa Minas e Bahia. Divide Bahia de Pernambuco, Pernambuco de Alagoas, Alagoas de Sergipe e desemboca no Oceano Atlântico.
Tão fofinha! Será que conto para ela sobre a possibilidade de alteração nos seus versinhos tão bem memorizados. Talvez vovó não fique tão decepcionada, afinal é para saciar a sede dos filhos da seca. A menos que junto com a transposição das águas ocorra a transposição de interesses... Nada novo...

sexta-feira, novembro 23, 2007

Conversas (e memórias) com vovó

Vovó anda carente. Hoje fiz uma visita e conversamos um pouco... Assunto preferido dela: meu (s) (ex)namorado (s). Entre nossas conversas vovó sempre deixa escapar algumas de suas memórias...

- Quantos namorados você já teve?
- Três, vó!
- Tudo isso?!
- Não é muito. Estou conhecendo pessoas... Até um dia, quem sabe, conhecer aquele que vai ser mais especial.
- E como você vai saber se é "ele"?
- Ué, vó. Isso você que tem que me dizer... No final, a gente encontra?
- Não. A gente se engana...

quarta-feira, novembro 07, 2007

Comédia (à dois) da vida privada...

- Querido, você não é romântico... Queria que você falasse coisas bonitas, românticas... Sobre a lua no céu, sei lá...
- Falar sobre a lua no céu... Correto. Cadê a lua? - procura, procura e... - Cadê a porra da lua?

sábado, novembro 03, 2007

"Eles"

Quando chega a manhã, sempre encontro
uma razão irresistível para ir vê-la
E antes de me dar por conta, estou ao pé dela
Ora é ela quem me diz à noite:
"Amanhã virás, não é?"
Quem seria capaz de recusar.?!

***
Ele vive entre o ceder e o resistir
Se esquece, moço inquieto,
Que mesmo as margens mais opressoras
impõem ao rio apenas um único desafio: fluir.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Sendo, co-sendo e descosendo...

La Maja vestida - Francisco de Goya
Museo del Prado



Sou mais eu quando não estou aqui. Acho que em seus braços sou um pouco eu também. Mas sou mais a projeção do que você espera de mim. Sou mais eu quando estou além-mar ou em pátrias outras. Longe de todos que amo e da recíproca verdadeira faz mais sentido ser aquela que persigo aqui dentro. Naqueles lugares em que sou desconhecida, tudo me revela mais do que aqui, onde já vim transparente demais e preciso me armar com máscaras e pudores. Pois, que seja! Vou sendo no “onde” que houver, cada momento de uma vez... E agora, momento em que não encontro espaço para ser além de rotina e leitura, vou sendo e co-sendo bem devagar e em sua companhia. Mas, de noite, desfaço o bordado para permanecer mais tempo aqui, quem sabe ao seu lado. Quem sabe... (M.L.C.M.)


La Maja desnuda - Francisco de Goya

segunda-feira, outubro 15, 2007

Roubos

Sem pudor, roubei esta citação de um blog alheio, como faço quando gosto de alguma coisa... Não, não sou cleptomaníaca. Isso se restringe às citações e a outros bens não materiais. Nada de atentar contra a propriedade privada, te asseguro John Locke.
Segue...
"A descoberta da mulher de nossas vidas funciona como uma boneca russa. Você tem que ir abrindo cada uma delas, uma escondida dentro da outra, até chegar à última. Mas você nunca sabe qual é a última boneca até chegar nela. E às vezes ficamos com medo de ver se ainda há outra boneca escondida dentro daquela que a gente julga ser a última." (Filme Bonecas Russas)
Pois, sigamos todos na descoberta deliciosa do outro, dia após dia...
***
"O presente me exige doses cavalares de racionalismo".
Por mais que a Anna me diga ser anti-ético se citar, gostei desta frase que surgiu no comentário do Firulas.
Aliás, aproveito para mais um roubo...
Sábado, Setembro 22, 2007

Um retrato cretino da esperança
Quando ela saiu, fez questão de levar a chave e deixá-lo trancado em casa. Disse para esperá-la, que voltava, e que trazia pão fresquinho e carinho. Que esperasse. Depois, bateu na casa de cada vizinho e convenceu a todos que deveriam sair dali. Que era melhor, e que não se preocupassem, que ela chamava a empresa de demolição. Derrubou-se todo sinal de moradia num raio de quilômetros, até onde a vista dele alcançava. Dedetizou a região; mataram-se as pragas, e junto com elas simpáticas formigas, grilos, gatos e marias-sem-vergonha. Depois, calou o vento e os pássaros. Em seguida, mandou apagar o sol, e desintegrar a lua. Voltou um tempo depois, e parou em frente à casa trancada. Sem ar que vibrasse as suas palavras, teve que passar um bilhete por baixo da porta. Avisava que demoraria mais um pouco, que era um imprevisto, que esperasse. Despedia-se com um beijo, cheio de promessas. Depois, fez queimar o bilhete, e a si mesma.Que esperasse.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Pontaria

Você que me fala de outras vidas
Você que me fala de vôos altos
Você com quem compartilho deliciosas biografias
Como pode me dizer que só tenho uma bala em meu revólver?

Não introduza sua interpelação com questões racionais
Pois ,enquanto escrevo, descarto a métrica decartiana
Pois, enquanto escrevo, quero apenas pensar plural
Pois escrevo, e isso é “mirar apontar e fogo!”

Meu amigo, que tanto prezo, não me prive de suas perguntas cruéis
Elas me fazem pensar, ajustam o foco da minha pontaria
Mas não me diga que não posso atirar...
E, acredite, não falo inspirada por utopia ou inocência estúpida


Não vê que já saí da caverna há tempos!
Já aprendi a enxergar além de umbigo e sombras
Ao pesar cada "apesar" reconheço um foco de luz...
Que emerge da urgência, mas é caminho e não carência

quinta-feira, outubro 11, 2007

Gramsci e a manicure

Enquanto entregou as unhas, lia algumas páginas do Intelectuais e a Organização da Cultura. A manicure, dedicada à tarefa orgânica de cuidar de seus quatro filhos e marido, seguia em silêncio. Uma com seu livro e a outra em seu sua tesoura, lixa e alicate. Uma com o livro que tomara emprestado do professor da faculdade. A outra com seus próprios meios de produção.

Lá pela metade da cutícula do mindinho da mão esquerda, a manicure já sentia falta do diálogo, sempre tão farto entre ela e suas clientes. Sem conter a língüa, disparou sem piedade sua pergunta, antes de aplicar uma dose sequer de anestesia. Como se arrancasse um bife daqueles enormes, lançou:


- Este livro responde as tuas perguntas?!
Pergunta pontuda! Estavam bem afiadas as ferramentas da manicure!
O silêncio permaneceu. Não se ouviu nem ao menos um "ai".

Ainda assim, um pensamento mudo ousou desafiar lixa, tesoura e alicate:
"Essas manicures estão cada dia mais abusadas!"


segunda-feira, outubro 08, 2007

"Vou pra rua e bebo a tempestade..."

"Existe uma pessoa que está ao seu lado, silenciosamente apenas no movimento barulhento das coisas aparentes, porque percebe que o mestrado é apenas pretexto para você empreender a busca da tempestade (sem o risco dos trovões que ferem, mas com os raios que nos alentam). Creio que sou um dos pouquíssimos a perceber você na totalidade, senão o único, e isso é ouro."

ps: Depois vou buscar uma imagem que faça jus a essa injeção de ânimo na veia!

segunda-feira, outubro 01, 2007

Manifesto à insanidade (Para Anna)

Assumo sem medo ou arrependimento: Sim, falta um parafuso aqui! Falta um peso nessa balança, falta um ponto na frase, uma vírgula, um parágrafo, uma conjunção ... Admito! Falta "preparo emocional" para lidar com as surpresas do dia-a-dia. No caso, contudo, já que, não tendo o poder de prever o futuro, a partir do momento que ponho o pé na rua estou me deparando com uma surpresa. A inesperada chuvinha justo quando saí desprevenida, o sol que saiu naquele dia que apostei na manga cumprida, o encontro na noite que decidi chegar mais cedo em casa para estudar...


Logo, reconheço que mereço meu "primeiro lugar", que, claro, não é só meu. É de todos aquele que me ajudaram a chegar até aqui. De todos que contribuem diariamente para minha "leve" instabilidade. Vou começar pelos buracos. Eles estão sempre no meio do caminho, justo no caminho da minha bicicleta. Impossível não desequilibrar.

domingo, setembro 30, 2007

Com dom e sem Dom...

"Essa consideração também é útil para que o jornalista iniciante (incluindo esta autora) assuma a consciência sobre as variáveis envolvidas na produção da informação e busque equacioná-las sem aspirações quixotescas, mas também não permitindo que ganhe espaço a acomodação em relação às regras do jogo."

(Trecho das considerações finais do meu trabalho de conclusão do curso de Jornalismo intitulado As gerações da notícia: O texto e o contexto da grande imprensa brasileira durante as viradas’ técnicas e políticas (1960-1980))

sábado, agosto 25, 2007

Las manos


Una destas manos en el aire es mía...


Por Guadalajara meus sentidos foram excitados pelos cheiros, gostos, imagens, ritmos, texturas...

Tudo é puro estímulo!

Täo perto das minhas mäos...




sábado, agosto 11, 2007

Fim de ciclo...

Agradecimentos



Eis que se aproxima mais um fim e mais um começo...

- Lide, Malu! Lide!

Vou tentar. Sem nariz de cera, agradeço aos meus amigos por compartilharem comigo as primeiras caminhadas entre o Iacs e o Gragoatá, por tornarem as aulas do professor “Babinha” mais interessantes, por suportarem meu estresse pré-apresentação do Aníbal (Bernardo, por que você não entrou na máquina do tempo?!), por dividirem os intervalos (e as aulas vagas) no anfiteatro - e depois na praia - do nosso Instituto...


Pelas aulas de jornalismo, agradeço ao amigo Breno Costa. Guardo as experiências compartilhadas no De Olho (De o quê?) e a missão encaminhada através do e-mail “É você mesmo”.

Agradeço a todos os que passaram pelo Fazendo Media: a média que a mídia faz enquanto eu fiz parte desta escola dentro da escola. Dou o crédito ao jornal estudantil por me apresentar novas versões.

Pela paciência, carinho e bom humor: obrigada Rosa Benevento!

Pela prosa e pela poesia: obrigada professor Denis de Moraes.

Agradeço ao meu orientador João Batista de Abreu por fazer o copydesk dos meus textos sempre com olhos de águia.
Renata, guardo com carinho nossa parceria no projeto de extensão que, na direção oposta da minha verborragia, apelidamos de “Cale-se”.

A todos os funcionários do Iacs e demais professores, aqui representados pelo professor Antonio Serra e pelo Zé Luiz Sanz, obrigada!

Pela literatura, agradeço à Stephanie e Graciela.

Agradeço pela sensibilidade da Anna.

Bruno, obrigada!

A todos que a falta de memória, de espaço ou o “fetiche da velocidade” me impediram de citar nominalmente, obrigada!


Até a próxima pauta!

De novo e sempre: pai, mãe e Pedro, valeu!

sexta-feira, agosto 03, 2007

Potencial...


Eu queria ser mais coisa
Mas escolhi ser pá
E ser terra
E ser semente
E ser promessa
Eu poderia ser árvore
E poderia ser fruto
E poderia, se quisesse, ser jardim
Mas quis ser regador
E quis ser mais polén
Do que já quis ser flor
E fui arado
E fui um pouco de mim.
***
Permita-se!
Uma amiga me disse: Você se esconde.
E tirou meus óculos e me deu brincos e me deu batom...
A dançarina de flamenco começou a ser exibir no salão. Com largo sorriso deixou seu recado. Prosseguiu desenhando artimanhas no vazio para quem quisesse admirar. E, quando achou que apenas seu ego se inflamava com o traçado de suas saias no ar, o toreiro se aproximou, abriu o pano vermelho e se preparou para o golpe certeiro:
- Posso me sentar?!

domingo, julho 22, 2007

Borboletas mutantes


A linguagem é fascista não porque ela te impede de dizer, mas porque te obriga a dizer. (Roland Barthes)




Há certas palavras que a gente se sente obrigado a dizer. E digo a gente na certeza de não estar sozinha. Não estou falando daquelas palavras que escapam da boca e, às vezes, ferem ao outro sem que tenhamos qualquer controle sobre elas. Isso porque o controle termina quando deixamos que elas ultrapassem as fronteiras entre o dito e o não dito. Depois, são como borboletas saídas do casulo. Mas, ao contrário destas, aquelas não têm vida curta. Ao invés de morrerem rapidamente no ouvido de alguém, podem assumir outras formas e percorrerem milhares de bocas e ouvidos, bocas e ouvidos, bocas e ouvidos... Por isso, vivo o esforço diário de cuidar para que não ultrapasse a fronteira do dito e do não dito qualquer palavra clandestina, que vá percorrer sabe lá que territórios. Além disso, para o caso de uma eventualidade, há pouco passei a carregar no bolso as palavras de um colega: Não confie no off!




ps: Cuidado redobrado com as palavras escritas!!! Conquistam o Green Card assim que chegam até a folha de papel

***


Eis que meu leitor e amigo pergunta, aqui abaixo no espaço reservado para os comentários, sobre a bicicleta. Pois é, não sei. Na verdade, acho que a deixei em algum lugar e, no meio dessa correria em que vivo atualmente, a perdi. Eu sei que correrias não são justificativas. E eu deveria me organizar melhor (palavras do papai). Dormir menos tarde, acordar mais cedo e usar fio dental. As descalcificações ameaçam o branco dos meus dentes.

Sei que deveria arranjar um tempo para sentar em alguma praça, colocar o jornal no colo e fitar alguma lembrança gostosa perdida em algum lugar, talvez junto com a bicicleta. Viu, só? Foi só relaxar um segundo e já tenho uma pista...

obs: Acima, mais uma foto de Juiz de Fora...

quarta-feira, junho 13, 2007

Jornal Velho x Jornal novo

Tenho fixação por jornais velhos. Verdadeira tara por algo que precise conferir daqui a alguns anos e que, por ter despejado no lixo aquele velho jornal, fique eternamente sem saber. Sim, é um drama. Nunca disse que não gostava de dramas. Minha obsessão é pelas informações que, com certeza, passarão despercebidas na primeira leitura. Na verdade, admito, minha obsessão é justamente por aquelas que não absorvo. Terrível condição humana esta que Deus – para quem acredita, claro – criou... O jornal de ontem é por demais interessante aos meus olhos, pois representa um desafio e me impõe debochadamente uma pergunta: o que ficou por saber? Qual parte dessas folhas, em breve amareladas, não absorvi?

Tenho fixação por jornais velhos. E, hoje que vejo seus esqueletos na tela do computador, meus sintomas se agravam terrivelmente, posto que a sensação passou a anteceder a impressão. À medida que ele – esse jovem que já nasce adoecido pela velhice precoce – vai ficando pronto, começam as perguntas. O que faltou? O que sobra? O que está fora do seu lugar?

Certo dia, uma colega, famosa por emitir opiniões contundentes, me surpreendeu com uma simples constatação, quando viu minha cara de insatisfação ao olhar no jornal do dia o produto do meu trabalho.

– Foi impresso... - disse com seu infalível sorriso irônico.
***

- Mete um calhau, mete um calhau!
Diz ela que acordou com essas palavras depois de um pesadelo em que a sua apuração não condizia com o espaço e diagramação da matéria na página do jornal.
Depois de se desesperar tentando inventar os fatos (como se essa não fosse um pouco nossa tarefa, confesso...), ela se rendeu ao tapa-buraco oficial do jornalismo e pediu, implorou:
- Mete um calhau, mete um calhau!
Tentou antes dialogar com o editor, dizer que havia sido pautada para fazer uma matéria menor, totalmente diferente... Em vão. E para não deixar o vão, pois isso é coisa inaceitável, apelou:
- Mete um calhau!
Sim, há vãos. Mas não representam a sobra de espaço e sim a falta de informação. Remédio: criatividade. Ou então...
- Mete um calhau!
***

domingo, junho 10, 2007

Série Desconhecidos: Alheio







Estava entre elas e não estava. Enquanto pude testemunhar, estava alheio. Parecia estático com seu ar europeu, mas seus olhos... De novo os olhos...

Se o corpo de fato fala, confesso que não consegui escutar o que diziam suas mãos descansadas sobre a perna e a bengala. Entre as outras ele estava estático, por isso creio que já há alguns minutos havia saído daquele banco e talvez percorresse espaços outros, distantes daquela praça.








Mãos e pernas dialogavam entre si. Cruzadas em sinal de retração, talvez. Espalmadas, em sinal de prontidão, possivelmente. E as dele alheias, em sinal de distração. É provável que as últimas assim se mantivessem por não valer a pena retrair-se e porque, talvez, nem sempre seja requisito básico estar pronto e atento. "Distraia-se", me disse aquele senhor. "Relaxe", sugeriram suas mãos e pernas. Alheias, embora despertas.

***
Citação: "A gente acaba se acostumando com a chegada dos anos, eu pensei, enquanto as luzes iam se apagando na Avenida Montaigne. E prometi a mim mesmo que em 2007 eu ia mudar alguma coisa. E resolvi que havia de ser essa mania besta de deixar o coração na prateleira, ao alcance da mãe de alguém que já lhe quer tocar..." (Miguel Falabela, sem preconceitos!)

quinta-feira, maio 24, 2007

Série: Desconhecidos (A praça)

Juiz de Fora
Em algum dia no meio de uma tarde no meio de maio...


A mão repousando sobre a bengala. O alinhamento do terno, um sinal da elegância. As linhas do rosto se assemelhando às fronteiras de um mapa. Na pasta, papéis talvez... Um guarda-chuva, possivelmente. Os óculos não enganavam. Ele enxergava além. Aqueles olhos, míopes talvez, e certamente cansados miravam mais do que qualquer um pudesse supor. Não os subestimei. A mão esquerda descansando sobre o banco do Parque Halfeld. Naquele instante, parou o tempo. Nenhuma das árvores ousou balançar seus galhos. Apenas algumas folhas desobedientes se animaram com a brisa que passava sem alardear sua presença.
O cenário era todo dele. Dele e de sua imóvel concentração. Seu pensamento, não dividiu com ninguém. Os lábios cortados pela continuação das linhas que avançavam sobre seu rosto indicavam certo desânimo. Seria uma conta do passado, seria um ajuste com o futuro? Do presente, nada seria capaz de afligi-lo, porque o presente simplesmente não era, estava congelado. Mas eria esse estado gélido - longe das emoções passadas, afastado das potencialidades de um futuro - seria essa a causa do aparente desânimo? Estranha suposição... Pois quisera eu ter o privilégio de viver esse instante, em que as árvores param e tudo se cristaliza para que seu pensamento flua em paz, sem a pressão do elevador que vai sair do seu andar ou do ônibus que já deixa o ponto até o próximo ponto e o próximo ponto e o próximo... Ele não sabe, mas aquele momento foi congelado e nós dialogamos por alguns segundos. E, embora eu seja incapaz de traduzir o teor de nossa conversa, posso garantir que aprendi bastante com a elegância do terno e da gravata, as linhas fronteiriças do rosto, as grandes orelhas de bom ouvinte, o repouso das mãos, a prevenção do guarda-chuva na pasta e o exemplo de quem - mesmo com um certo ar de desânimo - não me enganou. Ele via além...


Nota: Desde já, peço licença aos desconhecidos para expor nossos encontros neste espaço virtual.
(Texto e foto: Maria Luiza Muniz)

domingo, maio 20, 2007

O Velho

Passava quase pela Rua da Lapa, ali próximo a Passeio Público que às vezes me parece tão deslocado em meio a uma paisagem de altos prédios e passos apressados. Quem afinal passeia por ali? Eu tampouco. Estava com pressa, como sempre. A pontualidade me dói no calcanhar. E mesmo advertida quanto ao péssimo cartão de visita que um atraso pode significar, é mais forte que eu – justifico. Correndo, atrasada para aquela reunião marcada e remarcada tantas vezes, olhei de relance alguém conhecido. Na verdade, era um nome, dois. Mesmo empurrada pelo ponteiro do relógio me permiti uma parada rápida, como se desejasse cumprimentar um conhecido. Era quase isso. O vi em meio a tantos outros, igualmente empoeirados, igualmente barateados. Mas por conhecê-lo, por ter ouvido a respeito das horas de sono mal dormidas, do stress, das revisões e re-revisões, da exaustiva – embora certamente prazerosa – pesquisa, enfim do sangue, suor e lágrimas derramados para que ele existisse... Lamentei profundamente ver aquele conhecido naquela condição. Desvalorizado, velho, gasto, vulnerável à ignorância de alguém que, ao adquiri-lo, não soubesse dar-lhe o verdadeiro valor. Peguei-o em minhas mãos. Rapidamente o devolvi ao mesmo lugar. Prossegui caminhando a passos largos e corridos, tentando superar-me a cada metro. Pensei como era injusto que o que acabava de ver. O Velho ali largado, como algo velho realmente. Quem seria capaz, que alma insensível buscaria se desfazer de tanta Graça? Quanto recebera para cometer tal crime?
Na volta, percorrendo o mesmo caminho, notei que ele dividia o espaço com Lima Barreto, José de Alencar, Isabel Allende e tantos outros nomes que, não fosse a minha nova percepção do quadro que via, mereceriam a mesma preocupação inicial. Com outros olhos, percebi que aqueles senhores dispostos haviam escapado do asilo que são as prateleiras empoeiradas e a prisão de bibliotecas fechadas e tão pouco acessíveis. Ali, não estavam vulneráveis como imaginei à primeira vista. Eram jovens senhores se exibindo, quem sabe, para jovens olhares, para olhares menos favorecidos. Talvez, imaginei, até instigasse olhares analfabetos ou iletrados a saírem da cegueira das letras e atravessarem para o mundo da leitura. Ali, eram todos militantes, lutando passivamente pela causa da democratização do conhecimento. Suas páginas amarelas já não serviam para o gosto de quem conseguira alguns trocados vendendo-os ao ambulante. Contudo, alguém se encantaria com a beleza da velhice que chegara para aqueles senhores, tal como para o Velho Graça, de Denis de Moraes.

sábado, maio 05, 2007

Respiração em fragmentos

Muitas patologias advêm da má respiração.
***

- Prende, prende, prende… Solta com um suspiro… De novo. Prende, prende, prende… Solta com um suspiro…

Essas são palavras da fisioterapeuta. Ela trata da reeducação postural, desatando nós semanalmente. E toda semana há novos. A região dos ombros é crônica.

- Não precisa me ajudar. Apenas respire.

Outras palavras da fisioterapeuta. Ela diz “Apenas” como se fosse fácil apenas respirar. Talvez seja, mas não parece. Aliás, é cada vez mais difícil esse processo mecânico, essa troca. Oxigênio, oxigênio, oxigênio... Gás carbônico, gás carbônico, gás carbônico.

***

- Mulheres que moram sozinhas ficam mal faladas.

Palavras da avó, que já beira os 90.

- É muito feio uma mulher sozinha, que recebe homens em casa. Fique na casa dos seus pais até conhecer seu noivo, casar e ir morar com ele.


A mecânica da indecência: mulher-independência-homens.


***

-Tenho que esconder as coisas – diz enquanto procura o dinheiro. – Nunca tive que esconder nada, mas agora elas andam sumindo...

A mecânica da memória já dá sinais de desgaste, embora não abra mão da produção em série pais-noivo-casamento. Mais um processo mecânico: viver.

“Apenas respire”. Complicado isso, não?! Afinal, trocas são sempre complexas...


Oxigênio, oxigênio, oxigênio... Gás carbônico, gás carbônico, gás carbônico.

***

Muitas patologias advêm da má respiração.

quarta-feira, maio 02, 2007

Palavras (quase) minhas...

Emergência (Mário Quintana)

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.



Quem faz um poema salva um afogado. "






Seguem mais algumas palavras que ainda duvido não serem minhas por me parecerem extremamente familiares. Seguem algumas palavras que catei no bosque alheio. (http://www.denisdemoraes.blogger.com.br/)

Meu nome é Caio F. Moro no segundo andar, mas nunca encontrei você na escada

Por Caio Fernando Abreu

Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas. Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa?(Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso.)Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

(O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 29/07/87)

segunda-feira, abril 09, 2007

Certas coisas...

...não se podem deixar para depois
Affonso Romano de Sant'Anna
lido em: http://comcult.blogspot.com/

Certas coisas
não se podem deixar para depois.
Muitos poemas perdipensando: "depois escrevo",
"agora estou almoçando"
ou "consertando a porta".
Assim, adiei - perdi o melhor de mim.

Certas coisas não se podem deixar para depois,
e nisto incluo; frutos no galho,
mudanças sociais,
certas coxas e bocas
e esta manhã que se esvai.

Certas coisas não se podem deixar para depois,
o amor não se adia
como se adiam o imposto,
a viagem, a utopia,
o desejo sabe o que quer,
detesta burocracia.

Feito depois,
o amor é murcha lembrança
do que, não sendo, seria

Certas coisas
não se podem deixar para depois.
Como o amor e as pessoas,
não se pode recuperar
a poesia.

sábado, abril 07, 2007

Nova temporada!

“O que estiver ao meu alcance também estará ao seu.”

De tantas palavras supérfluas, estas ressoaram por muito tempo... Menos do que o necessário para que ela enjoasse de tanto ouvi-las e mais do que devido para que ela conseguisse esquecê-las.

Já se passava um semestre desde que ela leu essas palavras pela primeira vez, pensando se tratar apenas de uma introdução para muitas outras...

Mas a história durou o tempo de um suspiro. Nem mais, nem menos.

E ela ainda hoje se pergunta: por que não estava ao alcance dele escrever outras linhas se a introdução prometia tantas mais?

Presa a estas palavras, ela não conseguiu buscar outras experiências que estivessem ao alcance dos seus olhos, mãos e lábios.

Já era famosa sua dificuldade de deixar de banhar-se nas águas que não movem moinhos. Era famosa sua teimosia quanto à insistência do tempo em passar, atropelando o tempo de suas emoções e sentimentos. Era notória sua limitação em aceitar que nas batalhas contra esse senhor, invariavelmente, suas emoções eram os despojos dos quais ela se recusava a abrir mão.

Por isso, ainda lembrava da mensagem “Possíveis desculpas”, uma desculpa para a aproximação. Por isso, ainda lembrava que ficaram devendo um ao outro o Lago dos Cisnes no balcão nobre do Teatro Municipal, às 20h de uma sexta-feira. Preço popular!

Por isso, quando leu no jornal que a temporada do ballet estava de volta sentiu um impulso fortíssimo de repetir o convite. Mas a história não se repete. Apenas como farsa, garantiu o filósofo.

E de farsas ela estava cansada. Ela ansiava por uma realidade bem reluzente, bem forte e intensa! Uma verdade que a fizesse perder o ar e sentir aquele frio na barriga, como quando pequena que o balanço ia lá ao alto e tudo ao redor passava borrado e atemporal...




quinta-feira, março 29, 2007

Nós e nós


Meus ombros estão doendo demais ultimamente!


Para mim é difícil descrever uma dor, mas posso dizer que, ao final de um dia inteiro, não raro desejo poder colocar os ombros de lado e descansar...



A questão não se resume aos ombros, mas ao peso que eles acumulam. E não é que eu queira dizer ' oh! como é grande minha cruz'. Sequer carrego uma.


Tudo é, relativamente, muito fácil para mim. Se bem que, relativamente, quase tudo é alguma coisa.


Mas, como ia dizendo, sou uma pessoa privilegiada. E nem vou listar o que me leva a afirmar isso, pois alguns poderiam pensar que estou contando vantagem. E longe de mim fazer isso!


A pergunta da vez poderia ser: 'Então, que peso é esse sobre os ombros?'


E direi: 'Não está sobre, está nos ombros'.


Cada nó que dói, cada músculo, cada articulação da região contém uma dúvida, uma preocupação, um receio, um pedaço de mágoa, uma decepção...


São coisas inúteis, cuja única função é amarrar bem apertado os nós que doem horrores na região dos meus ombros.


E, claro, não poderia faltar, uma dessas amarras são as lembranças. Lembranças suas. As palavras, os gestos, as mensagens, as omissões...


E essas últimas... São elas que amarram o nó que mais dói, que vai subindo pelo pescoço e me tirando a capacidade de girar a cabeça, de olhar ao meu redor, de esquecer e continuar.


Tlack!


Uma onomatopéia não muito fiel para traduzir em uma palavra o barulho do nó quando tento suavizar a dor.


Fecho os olhos. Jogo a cabeça para um lado, para o outro, para frente, para trás... E, de novo no eixo, ela pesa menos e os nós parecem mais fracos, mais frouxos.


Meu corpo pede mais pausa.


sexta-feira, março 16, 2007

Bobeiras...

Bom, vou começar assim…

-Onde estão minhas asas que deixei com você?

E depois vou prosseguir assim...

-Acho que deixei em algum canto do canto seu quarto...


Não. Péssimo! Apaga toda essa baboseira.

Não vou deixar tão claro... Preparar disfarce.

- Eu esqueci algo com você? Quem sabe aquele pedacinho minúsculo de coração que te emprestei, lembra?

Não. Horrível! Ele vai dizer que não se lembra e que nunca pediu nada emprestado. Aí mesmo que eu vou despencar 40 andares em queda livre.



***


Não pensei que o tempo passaria tão rápido. E tão rápido perderia as palavras antes tão fartas entre nós. Ainda estou sem entender nada. Não restou sequer uma carta para as explicações finais. Só o abraço no parque e um para cada lado...

Os versos evaporaram com as metáforas... Lembro de você às vezes, quando não há muito o que fazer, quando canso de pensar no presente, quando transbordo de pretensões em relação ao futuro. Só então recolho alguns velhos pensamentos, amarrotados entre as roupas.

Na verdade, lembro de você também quando me perfumo. Ah, lembro quando passo pelos nossos lugares e sigo os passos que caminhamos juntos... E se fizer um esforço - não tão grande, admito - posso até ouvir nossos diálogos. Tínhamos uma rua. Mas escutei outro dia que essa rua não era só nossa. Se essa, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava apagar. Mas - lamento - ela permaneceria na minha lembrança. Eita! Por que tinha que existir essa coisa que faz a gente desacelerar o carro quando passa em frente àquele lugar especial... Droga!

Ainda tenho que contornar meu receio de ser descoberta em minha nostalgia secreta. Os outros nem podem sonhar, mas esqueci minhas asas no chão do seu quarto. Se achar, não precisa me devolver. Elas já não servem. Certamente, estão pequenas para mim.

Pois é... Acho que cresci um pouco nesses últimos tempos.






Pôr do sol na estrada...

quinta-feira, março 15, 2007

É amigo (Em ritmo de samba-canção...)

É amigo, fica quietinho aí no peito...
Ainda não é hora de saltar.
Sei que já te prometi mil vezes
Mas espera um pouco mais...
Nossa forra há de chegar.

Sossega aí do lado
E desculpe pelo falso alarme
Perdoe se de novo fiz você se aprumar
Para a festa do porvir

Eu também pensei
Que nossa hora havia chegado
Mas estou aqui no meio do salão
Sem par nem convite

Eu sei, rapaz
Que não estavas preparado
Para esse precoce desquite...

Confesso: também perdi o ritmo dessa vez
E me pergunto:
“Se foi para desfazer,
Por que é que [ela] fez?!”

Está certo, companheiro...
Que a rima é fraca
E a cantoria desafinada
Mas, vamos, se aquieta um pouco
E curte a madrugada.

Estou tão surpreso quanto você
Mas sabemos de cor e salteado
Nada é tão duradouro
Que um dia não vire passado.

terça-feira, março 13, 2007

The ticket...

Não deixe que estas palavras façam parecer que eu não estou bem. Esta não é a imagem que deve ficar registrada. Sim, não sei direito para onde estou indo, mas isso não é novidade. A boa nova é que antes ninguém esperava que eu chegasse a algum lugar. Apenas eu.

Bom, she's got a ticket to ride and she do care! "She" sou eu. Essa música está martelando na minha cabeça desde segunda-feira. Acho que por eu ter pego a estrada no fim de semana. Estava precisando. A bicicleta está quebrada. Lembra?! Ainda com aquele problema da corrente. Eu pedalo, pedalo e pareço não sair do lugar. Se pelo menos estivesse em uma ladeira... Mas quem pode garantir que os freios funcionariam?

Tenho sonhos estranhos e turbulentos. Sonho que os prazos me atropelam. Ou seria o dia de ontem? Os prazos sempre me atropelaram. Esta também não é a novidade. A boa nova é que antes ninguém espera que eu os cumprisse. Tenho ganho a batalha. Eu 1 x 0 Relógio. Não, não estou pretendendo chegar ao milésimo ponto. E, felizmente, ninguém espera que eu faça isso.

"She's got a ticket to ride..."

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Nossa dinâmica... (Bruno Polizio)

Passando de longe... vindo.
De cá o perfume de lá.
E vem, de preto, com preto.
E as pernas, e os braços,
Irrompendo, morenos, da roupa leve, suave.
Negra, naquele fim de tarde que se confunde com o começo da noite,
Quando o escuro se amálgama ao claro,
Quando essa mistura é inseparável,
Quando o ar se excita diferentemente,
E a luminosidade é mais sensual.

E os cabelos, de perto,
Castanhos.
Mas, só de perto.
Porque as cores, às vezes, me enganam.
E o sorriso, discreto.
Acho que não. Sei o que não sei.
Decifrável?
Sei que sei dos lábios,
Finos, rosas, macios,
Que dizem, o que vem de dentro, moderadamente,
Suavemente, pequeninamente, e apequenando-se, quem sabe confusos.
Enfim, como ela, dengosa, em si.
Meio aérea.

Mas a conversa flui, vai.
Vem ás vezes, também.
Atropela os pratos vazios em cima da mesa.
E enquanto das mãos delas o cope foge,
Às minhas ele vem a galope, indelicado.
Incerteza.
E a sobremesa vem com o doce de uns bejinhos.
Parcos, é verdade, é que restaurante não é apropriado.
Bacana o local, entretanto.
Tudo corre bem, legal.
E certo de que o carinho da última vez
do primeiro momento foi-se.
Não é o mesmo, agora.
Estranho.

E com o avanço da noite,
Quando a languidez é vencida pela lascívia,
Quase que imediatamente chega a letargia.
Hora de ir embora.
Dia de trabalho na manhã seguinte.
E gosto dela.
E do perfume que deixa em mim.
Satisfação pela noite agradável.
E uma certeza, daquelas que nos deixa tranqüilo para o dia seguinte.
Que tudo que podia ter feito, fiz.
Estou fazendo.
E um dia, quem sabe,
Não estarei numa tarde nublada,
E muito vento,
Com o braço direito prostrado na perna esquerda,
Com o queixo afundado na mão direita,
a pensar no que podia ter sido,e que não foi.
E assim, pois, tento, e continuo.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Jardineira

Plantei uma muda no meu jardim
Um pé de vamos-ver-no-que-dá
Plantei uma muda no meu jardim
Um pé de ao-sabor-do-vento

Minha muda ainda é miudinha
Muda mudinha
Mundo, mundinho, miudinho...

Juntei terra e água
Cavei um buraco no chão
E fiz lama e fiz limo e fiz leme

Plantei uma muda no meu jardim
Deixei o vaso num canto
Ficou vazio o vasinho

Vou regando minha muda
Pra ver se ela muda
E vira um pé de caminho...

(Mª Luiza Muniz)

domingo, janeiro 28, 2007

Clarice esclarece... (citação 2)


"Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo que não sei."

Citação


"Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula. Eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos."

segunda-feira, janeiro 15, 2007

domingo, janeiro 07, 2007

Su poema, nuestro sentimiento...

"Soneto de la que fue"
(Mario Benedetti)

"y aunque en la piel nos queden cicatrices
desde el viejo pasado hasta el presente
puede ser que logremos ser felices"
(Soneto de lo posible, Mario Benedetti)


Yo quisiera mirarte conocerte
como te conocí cuando vivías
y me mirabas con miradas mías
y yo gozaba de mi buena suerte

pero el pasado en nada te convierte
y te quita inflexible de mis días
sólo mi ensueño enciende sus bujías
para que resucites de tu muerte

ya no me entiendo con mis soledades
ni con la soledad de los que quiero
una a una desfilan las edades
y quedan mis preguntas sin respuestas
a esta altura es muy poco lo que espero
pero prosigo con tu muerte a cuestas