sexta-feira, janeiro 27, 2006

Moeda da sorte

Moeda da sorte
Inspirado em "BROWN PENNY" (Moeda Marrom)
by William Butler Yeats


Eu sussurrei: “Sou muito jovem”
E depois: “Envelheci o bastante.”
Então, joguei uma moeda
Para descobrir se eu seria amada

Ah! Moeda da sorte, moeda dourada,
Diga-me onde encontro o amor
Qual o sentido, qual a direção?
Como alcanço sua morada?

“Não escale a montanha vigiando a queda”.
Ah! Moeda dourada, dourada moeda,
Fui seduzida por um ritmo descompassado.
Meu par de novo bateu em retirada.

Como conter minha precipitação para saber o amor?
Como ser sábia e não viver a ansiedade?
O dia chega e flagra meu torpor.
Será o amanhecer um convite à possibilidade?

A música ainda toca ao fundo...
Ah! Moeda da sorte, dourada moeda.
Eu sei, cedo demais para um coração tão contrariado.
Mas esta noite a lua minguou e o tapete negro estava apagado.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Um convite para o dia seguinte...

Convite

CONVITE

Boemia, venha ver o pôr do sol!
É cedo para você, mas tarde para quem madruga antes das 6.
Quando ele mergulhar e você enfim aparecer
Não vá dizer que não avisei.
Não adianta me culpar pelo estrago que você fez.
Boemia, venha ver o astro rei
Sem essa de sair só depois que a noite ancorar
Deixa de história, para de se enfeitar.
Boemia, ele já está sumindo...
Corre se não vai perder
Deixa pr’a lá o que tiver de fazer
Isso não é ansiedade, tampouco afobação.
Quem lhe chama é a cidade, é São Sebastião.
Boemia, deixa seu tambor um pouco de lado
Vem batucar no meu terreiro
A chamo para ver o espetáculo
Você diz que só no próximo fevereiro.
Boemia, por que espera a festa da carne?!
A comemoração é agora!
Boemia, venha ver o pôr do sol!
Minha cara, que demora!
Já era... ele mergulhou.
Um bêbado se insinua...
Quer lhe pagar uma bebida, fazer uma brincadeira...
A noite é sua, nua, faça bom proveito!
Mas quando o sol escancarar sua bebedeira
Boemia, minha cara, sua graça não terá mais efeito.

MLCM

sexta-feira, janeiro 06, 2006

"Loucura"

Malu conheceu uma senhora cujo filho, esquizofrênico, está internado. Ao escutá-la narrar seu sofrimento de mãe vendo as ilusões da mente perturbada de seu filho, ela fingiu uma força que desapareceu mais tarde, quando veio um choro inexplicável.

"Ela" se destaca mais pela paixão de suas esculturas, pela riqueza de sua percepção do mundo modelada no barro, no bronze... Mas era a "loucura" de Camille Claudel que se fixara na mente de Malu enquanto ouvia a senhora. Aquela mãe contava algumas das alucinações de seu filho, que comemora todo dia o aniversário da irmã e não se alimenta porque seus olhos lhe pregam peças e acusam a existência de bichos em sua comida. A agressividade de um jovem, vítima das seqüelas da dependência química, e o descontrole sobre os instintos sexuais são episódios deprimentes de uma vida esmagada pela loucura.
Mas o que é a loucura? Serão os loucos realmente loucos? Serão os sãos realmente sãos?

O que dizer para aquela mãe? O que "Malu no país das maravilhas" pode dizer? Apenas que todos temos nossas "loucuras", nossas alucinações. Malu de bicicleta teme a escuridão. Tenta se convencer do contrário, mas quando confrontada com a imprevisibilidade que há na ausência de luz ela imagina que há pessoas a espreitá-la. Há casos sérios de pessoas que têm graves alucinações ao se apropriar de coisas alheias e afirmarem convictas total inocência no banco dos réus ou das CPIs da vida. Há outros que passam a vida desejando que o fracasso alheio se traduza magicamente em seu sucesso instantâneo. Cadê as camisas de força?! Estariam escassas no grande mercado da impunidade?!

A loucura é algo dolorido - não deixo de imaginar Camille quebrando todo seu ateliê pouco antes de ser internada. Mas também é curioso pensarmos que os loucos de hoje podem ser os gênios criativos, a escultora brilhante, o inventor magnífico... Tudo no magnífico amanhã, o senhor dos contrastes. Para Malu, um reservatório empolgante de possibilidades e um enorme e assustador buraco negro, cheio de imprevisibilidade.
"Mais louco é quem me diz que não é feliz..."