sexta-feira, junho 24, 2005

Posto que...

Quem pensou que Malu de bicicleta desistiria de sua aventura por causa do sumiço de sua companheira estava muito enganado.
Não teria como ela parar seu passeio perdida em um posto qualquer, na beira de uma estrada qualquer.
Malu continua decidida a encontrar sua bicicleta. E vai fazer dessa procura um motivo à mais para dar prosseguimento a sua viagem sem destino.
É verdade que não irá pedalando, mas vai e vai longe. Saiu do posto disposta e aposta que sua bicicleta vai conseguir encontrá-la, vai farejá-la, como um cão fiel que busca seu dono.
Cansada de esperar o tempo passar, Malu, sem bicicleta, foi levada por um estranho impulso.
Estava sentada na linha do trem vendo o horizonte borrado pelo vermelho alaranjado do pôr - do - sol, quando foi surpreendida por um barulho...
Era aquele barulho do tempo passado, de ferro envelhecido, de máquina gasta, desgastada, posta em movimento...
Ela rapidamente tratou de abrir espaço para o trem passar, como quem se afasta dando lugar para um velho senhor; pesado, lento, gordo, mas ainda rabugento.
E ele passou. Com seus vagões enfileirados, seguia seu rumo sobre o trilho e teria prosseguido ileso, não fosse Malu sem bicicleta ter avistado uma roda.
Era ela! Malu não sabia como sua bicicleta tinha ido parar ali, mas era ela, com certeza! Malu correu atrás dela, que se afastava dentro do último dos vagões, entreaberto e com algumas poucas sacas.
Simplesmente, correu. Correu contra o vento, à favor do futuro. E conseguiu subir naquele velho senhor que passava lentamente, mas soberano.
Malu caiu sem ar sobre as sacas abarrotadas e rapidamente olhou para o lado a fim de certificar-se de que ela estava novamente ao seu lado.
Viu o que vira antes. Uma roda. Somente uma roda. Até poderia ser de sua companheira, e isso a faria muitíssimo feliz, mas não era. Definitivamente, não era.
Malu pensou em pular do trem. Mas não tinha forças, faltava-lhe a obediência das pernas, assim como faltava-lhe o ar. E lá foi Malu. Sem bicicleta, só Deus sabe pra onde...

segunda-feira, junho 13, 2005

MALU SEM BICICLETA...

Malu está sem bicicleta...Desolada!

Foi em um posto, na beira da estrada.
Ninguém viu, ninguém sabe de nada. "Foi muito rápido", disseram os presentes.
Muito de repente.
O sentido? Nem idéia... Não fizeram alarde, nem deixaram pistas. Tentaram procurar. Em vão! Já era tarde... Nenhum rastro, nada à vista.
E como caminhar sem o caminho?!
Malu sem bicicleta perdeu o impulso. É folha ao vento, ovelha desgarrada, papel avulso, trem sem trilho, sozinha, ilha, "inho"...


Sem bicicleta não há cabelos esvoaçantes, não há viagem, nem viajante, não há estrada percorrida, não há idas, nem vindas.

Ela espera. Quem sabe sua bicicleta apareça... Antes disso, não arreda o pé! Implora que o indivíduo que a surrupiou, por favor, se compadeça.

Nem precisa se desculpar. É só deixá-la paradinha, fazendo força sobre o descanso. Não precisa fazer barulho, nem chamar atenção...

Malu espera e não se desespera.

Próximo à estrada, passa um velho trilho e a cada 12 horas passa um trem, fazendo algazarra, marcando a hora. Marca o tempo, que não passa, que insiste em permanecer lento...

Tivesse duas rodas sobre os pés, iria ligeiro, sem vacilar. Correria como a bicicleta que Malu insiste em esperar.

terça-feira, junho 07, 2005

O SOL NASCE PARA (QUASE) TODOS


desenho de Álvaro Lucas

Na última vez que soubemos de algo sobre nossa ciclista, ela estava perdida.

Gripada e enfraquecida pelo cansaço, Malu foi acolhida por uma pequena comunidade, escondida em meio à natureza. Então, Malu de bicicleta sentiu que precisava estacionar sua parceira por alguns dias. E assim o fez.

Vivendo num outro ritmo, longe do barulho invasivo das buzinas e dos sinais fechados, Malu conheceu algumas pessoas, fez amizades e já deixou saudades... Mas também carrega na bagagem muitas lembranças; e o desenho de um amigo afeito à arte de retratar a vida com um pouco de cor.

Difícil, para quem depende do colorido que, curiosamente, chega de vez em quando na forma de lápis, vindos de alguma cinzenta cidade.


Engraçado, pois, junto a uma comunidade tão cheia de carências, Malu de bicicleta supriu as suas próprias; ensinando e aprendendo, ouvindo antigas histórias, trocando experiências...

O sol raiou...

E esquentou aqueles dias frios que Malu e sua bicicleta enfrentaram.

"Bom para pedalar!", ela deve ter pensado... Foi embora.

Sem tristes despedidas. Em cima da cama de palha, improvisada para uma inusitada visita, Malu de bicicleta deixaria um bilhete, se soubesse o que escrever.

Deixou seu lenço de estimação. Não teria muita utilidade. Nem era para ter.

quarta-feira, junho 01, 2005

Malu e bicicleta...

Antes de se perder...

Malu enviou uma foto de sua viagem. Pena que saiu um pouco fora de foco...