quinta-feira, março 30, 2006

PRESSA


“Nossas emoções cabem em uma hora e meia?” Embrulho minhas emoções para presente, sem retocá-las um milímetro, sem maquiá-las. Em seguida, faço uma oferenda para o mundo ou para o recorte dele que colei no meu mural de fotos, de instantes e pessoas importantes. O pacote é feito de tempo e tem prazo de validade. Passado o prazo se abrirá forçando um desnudar completo de minhas emoções. É como uma criança no ventre da mãe, que permanece embrulhada pelo tempo exato da gestação e encerrado o prazo rasga avidamente a cortina que lhe dá acesso ao mundo. Corre-se para desembrulhar o presente, choro, catarse... Qual o tempo necessário para empacotar cada emoção? E se ela nascer desnuda de um estouro, derramando-se sem hora pré- determinada, sem anestesia? Em uma hora e meia cabe a emoção de um bom resultado na prova do colégio. Mas não cabe a emoção de um primeiro beijo, menos ainda do último. Uma hora e meia é um embrulho enorme para a emoção de um torcedor que vibra com o gol do seu time no amistoso. Mas é extremamente pequeno se este embrulho guarda a emoção pelo gol da seleção aos 48 minutos do segundo tempo na final da Copa do Mundo. Aqueles que pedem a mim uma emoção compacta, envolta no tempo que me é concedido entre um reclame e outro, não entendem de emoção nem de tempo. Minha ansiedade de ver a cortina se abrir é enorme, corro para chegar logo o momento de ver minhas emoções no palco. Não se disfarçando ou se contorcendo para caber no tempo do espetáculo, uma hora e meia. Quero minhas emoções livres das amarras. Amarras que oprimem, me obrigando a sentir no compasso dos ponteiros. Amarras de um belo embrulho que transforma minhas emoções em presentes, aprisionados pelas correntes das perspectivas em relação ao futuro.

terça-feira, março 14, 2006

"EU TE _ _ _"

Saio da minha experiência hermética e me exponho ao transe. Ao transe de um indivíduo em busca da troca. De um indivíduo que aguarda profunda e ardentemente a oportunidade de deixar sua individualidade solitária. A oportunidade de pertencer sem carecer ou depender. A chance de compartilhar sem temer a vulnerabilidade de conjugar o famigerado verbo na primeira do singular: "EU TE ...". Mas conjugar sem o receio angustiante da flexão no plural: "Nós nos...?"

Entrego-me ao transe de discorrer sobre algo que não conheço. Surpreso, leitor?! E, por acaso, você conhece? De qual tipo? Sim, há tipos, Vários! Conhece o de Camões? Ou o de Vinicius? Ou, quem sabe, não inventou um tipo novo em suas andanças?! Sem problemas, leitor passivo. Não precisa se abrir. Afinal, quem se expôs ao transe fui eu. Exposição, uma atitude difícil, encantadora. Como um quadro na galeria ou como uma bailarina na caixinha musical é fácil. Desafio-o a tentar a exposição tal qual a de um crooner amador que sempre recebe vaias, mas arrisca-se todas as noites a, quem sabe, ser ovacionado. Afinal, conjugar este famigerado sentimento – você sabe qual – é um desafio para iniciantes e doutores. A última é sempre a primeira vez.


Acostumado a rimar sempre com terminações em “OR”, quase me surpreendi pedindo “Por favor!” Surpreso, leitor?! Pois saiba que esse conjugar complicado não aceita orgulho, tampouco vaidade. Rima-se com “dor” e com “felicidade”. Sim, ao mesmo tempo. Ora, sei sabendo! De ouvir dizer, de ver na TV, de ler nos livros, de ver nos aeroportos, nos portos... Claro, rima-se com partida e chegada, com saudade, com cessão, com sessão... É possível rimar com fantasia, com realidade, com perenidade, com eternidade. Mas, devo confessar, estas últimas rimas me parecem bastante escassas, como me parece escasso o.... Você sabe o quê. Como? Medo? Não! Só não quero falar dele hoje. Por quê? Nada de mais, não quero e não vou. Posso voltar ao meu transe?! Obrigada!

Entre um fogo que arde sem se ver e algo finito posto que é chama? Não sei. Não queria me queimar. Inevitável? Você acha? Mas por que cargas d’água tem porque tem que ser desse jeito masoquista? Você ri? É trágico! Sei, engraçado porque não é você que está na berlinda. Eu sei. Conjuga-lo é colocar-se nela, na berlinda. Sim, “lo” é “ele”. Não adianta, não vou pronunciá-lo. Ainda não. Não hoje. Amanhã, talvez. (MLCM)