segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Canção de ninar... (Luísa de Castro)

Não sô mais fia...
Sô orfã.
Não sô mais fia,
Sô orfã.
Cadequê o fio se esticô

Não sô mais fia, 
Sô orfã. 
No afã de ser mais eu
No afã de amanhecê

No afã de me saber
No afã de germinar...
Não sô mais fia...
Sô orfã de mamã e papá
Sô orfã
De papá e mamã vivos!

Não sô mais fia, 
Sô orfã. 
No afã de me bem querê e de crescê 
E de, um dia, ser eu mamã... 


COMISSÃO DA VERDADE

Para que serve?
Por João Batista de Abreu em 18/1/2011

Professor, poeta, cronista e um dos maiores conhecedores da obra de Carlos Drummond de Andrade, o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna tropeçou em pedras no meio do caminho ao condenar a criação da comissão da verdade, para investigar os crimes praticados em nome do Estado brasileiro durante o regime militar (ver aqui).
Independentemente da posição ideológica de cada cidadão brasileiro, as famílias têm o direito de localizar seus entes desaparecidos, assim como o Estado democrático tem o dever de colaborar para que seja recuperada a veracidade dos episódios da trama política, mesmo os mais escabrosos. Do contrário deixaremos insepulto um cadáver que mancha a tradição do país e, particularmente, das Forças Armadas brasileiras e de membros do Ministério Público, que fingiam ignorar as denúncias apresentadas pelos réus e advogados de defesa durante audiências na Justiça militar.

O livro Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira, em que Frei Betto narra os suplícios do frei dominicano Fernando de Brito, ex-preso político, traz um depoimento importante sobre a relação entre os torturadores e o Estado:

"A tortura no regime militar brasileiro é sistêmica; suas diretrizes foram definidas pelo Conselho de Segurança Nacional. Portanto não deriva de abusos. Os agentes do DOI-CODI usam codinomes, trajes civis e são impedidos de corte militar dos cabelos. Atuam em grupos de três a cinco, e seus endereços são preservados".

História preservada
Quase todos os países da América e da Europa Oriental que viveram sob ditaduras durante a Guerra Fria instauraram comissões para investigar os crimes de Estado. A vizinha Argentina – onde a repressão foi muito mais violenta do que no Brasil – tornou públicos documentos secretos e prendeu oficiais e ex-presidentes envolvidos em assassinatos e desaparecimentos. Uruguai, Chile e Peru seguiram o mesmo caminho e recuperaram a história dos tempos do arbítrio. Somente o Brasil insiste em varrer a sujeira para debaixo do tapete.

Se é verdade que um grupo de sete pessoas não tem poder bastante para levantar os nomes dos torturadores, que cometeram as maiores atrocidades em dependências militares como o DOI-CODI, em São Paulo, e o quartel da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, então poderíamos questionar qualquer decisão da Justiça criminal, porque sete é o número de jurados que decidem a sorte dos acusados de crime de morte, nos julgamentos em primeira instância.

Por que não tornar público os nomes de empresários que financiaram a Operação – paramilitar – Bandeirantes (Oban), criada na ante-sala dos gabinetes oficiais? Por que não divulgar os nomes de donos de jornais que emprestavam veículos para operações antiguerrilha? A quem interessa manter os jovens brasileiros à margem dessa página obscura de nossa História?

O historiador francês Marc Bloch, herói da Resistência, cunhou um pensamento peculiar sobre a importância do conhecimento. Preso pela Gestapo em Lyon, à espera do fuzilamento, escreve uma carta ao filho de seis anos sobre o valor de se estudar História. Primeiro, ele questiona a idéia de que um conhecimento profundo evitaria a repetição dos erros do passado. Se assim fosse, não haveria nazismo. Para quem pensa que a História serve para combater as injustiças sociais, Bloch argumenta que, se assim fosse, não estaria ele prestes a ser fuzilado. Para que serve a História? Poderíamos dizer que serve para mostrar que em tempos de arbítrio, seja qual for o matiz da ditadura, os crimes de Estado não atingem apenas aqueles que se opõem ao regime, mas a toda uma geração que viveu sob o signo do medo.

sábado, fevereiro 12, 2011

E a chuva vem com hora marcada...

"E a gente no meio da chuva... a girar, que maravilha..."


Brasília, DF - 12 de fevereiro de 2011


segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Battisti clandestino!

Durante o show, no embalo da música de Chao, um rapaz foi ao microfone para protestar contra a prisão de Cesare Battisti, que permanece na penitenciária da Papuda, em Brasília. 

Para mais sobre o caso do italiano preso em solo brasileiro a despeito da decisão do ex-presidente Lula em  dezembro de 2010, ver aqui ou aqui







Brasília, 6 de fevereiro de 2011
Show do Manu Chao

Niteroiense... clandestina!

Brasília, 6 de fevereiro de 2011
Manu Chao - Clandestino

E vale como homenagem à odisseia de tentar obter uma nova identidade, um número que me identifique como cidadã brasileira... Antes, devo precisar de um outro numerozinho que me identifique como aquela que aguarda na fila para ser atendida, entre outros tantos que também buscam seus documentos numerados. A caminho da fila uma senhora de cadeira de rodas faz questão de me indicar o caminho até o guichê. Puxa-me pela Frida Khalo, a bolsa, dizendo que gostaria de ter uma igualzinha... "Quero uma dessa. Onde posso comprar uma dessa?" Não cheguei a lhe contar, mas foi artigo peculiar garimpado em lojinha numa galeria fofinha da Corrientes, Buenos Aires. A moça me deu o privilégio de acompanhá-la até o subsolo no elevador que traz uma placa retangular com um visível "EXCLUSIVO".  Ela me chama de "Neném" para indicar que eu entre e segure a porta automática para ela avançar com suas rodas aparentemente pesadas. Noto seus pés inchados com meias sufocantes -tudo aparentemente. A voz eletrônica informa que é hora de deixa o elevador seguir seu curso e ela dialoga, informando que ainda não embarcou completamente. A viagem é curtíssima. Pronto, chegamos! Ela tem seus justos privilégios e vai logo passando a frente na enorme fila, que não chega a ser uma fila, mas um pequeno amontoado de pessoas em busca de um papel. A "Neném" aqui fica perdidinha, tentando encontrar alguém que lhe informe os "ondes" e "comos" necessários. Em poucos (!) minutos descubro que a pergunta certa seria também "como que roupa eu vou?".  A foto da identidade não pode ser tirada com os ombros desnudos e eu estou com uma tomara que caia especialmente selecionada no armário para enfrentar o calor de mais de 30ºC - segundo minha sensação térmica que não me engana. Sem lenço nem documento, por enquanto, volto para casa. Ainda preciso resgatar minha certidão de nascimento para dar entrada no pedido por uma nova identidade, um número que me diga quem eu sou... Mentira. Uma sequencia numérica não vai dar conta dessa informação. Isso é o tipo de coisa que quando descubro é porque mudou tudo e parto em busca de nova identidade. 

"Niteroiense clandestina!"  

Clandestino
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Pa' una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la dejé
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley
Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana ilegal
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Argelino clandestino
Nigeriano clandestino
Boliviano clandestino
Mano negra ilegal


***





sábado, fevereiro 05, 2011

Longevidade...


Brasília, DF - 5 de fevereiro de 2011 

quarta-feira, fevereiro 02, 2011