sábado, abril 22, 2006

V = ∆S / ∆t

Em quinze dias ela aprendeu a andar de bicicleta. Tombou algumas vezes. Chegou de lábios inchados e vermelhos, joelhos ralados, manchas roxas... Um aprendizado dolorido e colorido. Ela sobe na bicicleta e precisa de uma mãozinha amiga e "prima" para se equilibrar. Mas em pouco tempo ela já consegue tomar impulso sozinha. E o primeiro passo para o equilíbrio é não pensar no desequilíbrio. De queda em queda as duas rodas vão se tornando suficientes e ela aprende a frear no momento certo: antes de colidir com postes, meio-fio, pedestres, carrinho de pipoca, árvore, banco de praça e o que for. Arrastada de seu tempo costumeiro, a experiência de aprender a deslocar-se sobre duas rodas chega para ela no momento em que já conquistou o equilíbrio da maturidade. Antes, quando ainda alimentava uma infantil instabilidade emocional, lhe fora vetada uma prática que só cabia aos homens; abrir as pernas em posição tão erótica quanto aquela que exige a pervertida estrutura de uma bicicleta. A mentalidade de um adulto, que impregnou o brinquedo com uma pudica promiscuidade, retardou o aprendizado dela, que agora sem nenhum pudor, solta cada perna para um lado do banco e faz sobre os pedais a força transmitida para a roda traseira através da corrente. E, exercitando o físico e a Física, ela comprova a cada pedalada a equação básica V = ∆S / ∆t. Ou seja: a vitória é igual à Variação de Suor dividida pela Variação de tombos.


Continua...
*Este texto foi escrito com base na experiência real da mais nova ciclista de Niterói-RJ.

sexta-feira, abril 07, 2006

Fazendo sacanagem...


A menina, 10 anos ou menos, convidou o tio:

- Tio, vamos fazer uma sacanagem?!

O tio se assustou e logo pensou como essas crianças de hoje em dia estão precoces e como isso queima etapas e como é preciso rever a educação das nossas crianças e que a TV é a grande culpada e que os pais estão muito ausentes, porque têm que trabalhar o dia todo para ganhar uma miséria, e que a exploração pelo capital corrói a sociedade, compromete os valores da família e blá blá blá blá...

O pai da menina se aproximou e perguntou qual o motivo da indignação do cunhado.

- Cumpadre, não sabe o que acabo de ouvir da sua filha.
- O que?!
- Ela me disse: "Tio, vamos fazer uma sacanagem?"
- E você esperou que ela terminasse?

O tio balançou a cabeça respondendo que não.

- Então espere ela terminar o convite.

E o tio, constrangido, perguntou para sobrinha qual sacanagem ela queria fazer com ele.

E, com um jeitinho indecente que só as crianças mais puras conseguem ter, a menina respondeu risonha:

- Tio, vamos apertá a campainha do vizinho e saí correndo?