sexta-feira, dezembro 24, 2010


Foto de Pedro Eugenio de Castro Muniz 23/12/2010 (RJ)

domingo, dezembro 05, 2010

Encosta?

...e nem era para ele estar aqui. E nem era para ela estar ali. Tudo convergira imprevisivelmente para que os dois estivessem a quilômetros e quilômetros de distância um do outro. O céu desabava sobre a terra, removendo o lixo das casas, deixado no canto do portão à espera da coleta. E também não era para ele estar ali: o lixo. Deveria haver um local mais adequado para evitar que aqueles sacos boiassem quando as águas alcançassem aqueles metros de altura. Também não era para aquela água toda estar ali, invadindo casas e barracos, os quais também não deveriam estar onde estavam, mas aquele pedacinho estava vago e o amontoado de 'taubas' pareceu seguro visto de fora... Não era. Lá estava morro abaixo. E já não adiantava pensar que o amontoado de 'taubas' não era para estar ali, pois há tanta coisa que não está no seu lugar, tantas pessoas que estão fora de seu habitat, tantos corações separados... E aquele deslocamento pareceu apenas mais um em meio a tantos, o que não tira sua importância. Afinal, é alguém que terá de erguer-se para tentar colocar tudo no lugar de novo... Espera-se que haja tempo. Espera-se que haja força... e que reste vida. E, para aqueles dois, parados um em frente ao outro, perguntando-se onde deveriam estar, onde gostariam de estar, onde estariam nos próximos meses e anos... Para eles, enquanto existisse aquele palpitar deslocando ventre, suor e hormônios, haveria uma chance de colocar as 'taubas' no lugar e elevar uma vida em local seguro. De preferência, longe das instáveis encostas...Quem sabe num plano, um plano bem alto? Um planalto...

MLCM