quinta-feira, dezembro 06, 2007

São Francisco e vovó

"É uma agressão tremenda", disse ele, "já que faz parte do instinto humano a preservação da vida. Só tendo uma convicção espiritual muito forte podemos vencer o instinto. Os quatro primeiros dias são insuportáveis e muito dolorosos porque se tem a expectativa do organismo pelo alimento que deve receber, que vem de fora. Depois disso o organismo está psicologicamente preparado, pois sabe que não vai receber nada e passa a se autoconsumir. Você não sente tanto a necessidade do alimento, mas o enfraquecimento é visível e cada vez mais você percebe a debilidade em seu corpo. Começa a faltar a memória e aparecem as dificuldades de se locomover. Depois fiquei sabendo que, pelas previsões médicas, eu agüentaria apenas mais dez dias."

Trecho da entrevista de dom Luiz à revista "Estudos Avançados" da USP ("O São Francisco, a razão e a loucura", jan./abr./ 2006, www.iea.usp.br/iea/revista) sobre sua primeira greve de fome para sensibilizar o governo a rever o projeto de transposição do Rio São Francisco.


Fracassado em sua primeira tentativa, dom Luiz iniciou há 10 dias uma nova greve de fome, promentendo chegar às últimas conseqüências em defesa do São Francisco.


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Conversas com vovó...
Relembrando seus tempos de escola, vovó mostra que sua memória está bem viva! Com seus 80 e tais anos, ela guarda decoradinho o trajeto do São Francisco. E declama, como poesia ou tabuada:
- Nasce na serra da Canastra em Minas Gerais. Atravessa Minas e Bahia. Divide Bahia de Pernambuco, Pernambuco de Alagoas, Alagoas de Sergipe e desemboca no Oceano Atlântico.
Tão fofinha! Será que conto para ela sobre a possibilidade de alteração nos seus versinhos tão bem memorizados. Talvez vovó não fique tão decepcionada, afinal é para saciar a sede dos filhos da seca. A menos que junto com a transposição das águas ocorra a transposição de interesses... Nada novo...

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