sexta-feira, dezembro 24, 2010
domingo, dezembro 05, 2010
Encosta?
segunda-feira, novembro 08, 2010
Diálogo sobre o horizonte
- Ah! disse Cândido, é a fúria de sustentar que tudo está bem quando tudo está mal.
quinta-feira, setembro 23, 2010
O Spírito da coisa...
Não acredito no acaso. Não acredito no destino. Acredito em qualquer coisa entre os dois que me levou a conhecer Antonio Spírito Santo através da exposição na Galeria Cândido Portinari/ UERJ. Acima, um pouco dos sons multiplicados por este artista, que ensina como extrair arte e política dos mais diversificados instrumentos.
sábado, setembro 11, 2010
Eu e os outros
quinta-feira, agosto 26, 2010
Registro de um cotidiano
quinta-feira, agosto 12, 2010
Levante sua voz (Intervozes)
Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.
Roteiro, direção e edição: Pedro Ekman
Produção executiva e produção de elenco: Daniele Ricieri
Direção de Fotografia e- câmera: Thomas Miguez
Direção de Arte: Anna Luiza Marques
Produção de Locação: Diogo Moyses
Produção de Arte: Bia Barbosa
Pesquisa de imagens: Miriam Duenhas
Pesquisa de vídeos: Natália Rodrigues
Animações: Pedro Ekman
Voz: José Rubens Chachá
CC - Alguns direitos reservados
Você pode copiar, distribuir, exibir e executar a obra livremente com finalidades não comerciais.
Você pode alterar, transformar ou criar outra obra com base nesta.
Você deve dar crédito ao autor original.
sexta-feira, julho 30, 2010
Cara nova...
***
Sexta-feira, Março 14, 2008
Maria Luiza Muniz
(resposta ao poema Me voy)
Eu fico. Não que inexista um destino.
É só porque minhas viagens, neste enquanto, são internas.
Eu fico esperando o momento de novamente
Envolver-te entre meus braços e pernas.
Eu fico com minhas hipóteses e metodologias
Fico com essa prótese de coração, cópia fiel.
Cuide bem da original em sua bagagem
Entre o kit de sonhos e camisa social.
Eu fico riscando o calendário duas vezes por dia
Para ver se alcanço mais rápido o seguinte...
Eu fico com nossas fotos e suas cartas.
Fico tentando casar sua letra e voz na minha memória.
Fico com a História, a Política, a Comunicação...
Vivo a prática diária das Ciências Humanas
E com a desumana carência da nossa práxis.
Fico, mas para declarar minha dependência
De lábios e toques, de corpos e atrito.
Digo ao povo que Fico.
...aguardando o grito da nossa doce inconfidência.
terça-feira, julho 27, 2010
domingo, julho 25, 2010
Acari: a dor nunca prescreve
Em 26 de julho de 1990, 11 jovens desapareceram na região de Magé, no Grande Rio. Passados 16 anos, nenhum deles foi encontrado e os parentes das vítimas sofrem com a sensação de descaso por parte das autoridades.
Uma semana antes do desaparecimento, segundo moradores, policiais militares teriam entrado na favela de Acari, durante uma festa julina, procurando por Luiz Carlos Vasconcelos de Deus (Lula), 32 anos, Wallace Oliveira do Nascimento, 17 anos, e Moisés Santos Cruz (Moi), 26 anos. À época, os três mantinham uma ‘sociedade forçada’ com estes policiais, já que eram obrigados a dividir o produto dos roubos e seqüestros que realizavam. Moi e outros dois jovens, Edson de Souza Costa, 17 anos, e Viviane da Silva, 13 anos, ficaram detidos em um cárcere improvisado na casa de Edméia da Silva Euzébio, moradora de Acari, que viria a ser uma das mais ativas Mães de Acari. O movimento dessas mães surgiu a partir do desaparecimento de seus filhos num sítio em Suruí, local escolhido pelos rapazes extorquidos para se refugiarem durante alguns dias na companhia de amigos e, supostamente, para esconder o produto dos roubos.
Entre os desaparecidos estavam ainda as namoradas de Lula, Rosana Souza Santos, 17 anos, e de Wallace, Cristiane Souza Leite, 17 anos. O filho de Edméia, Luiz Henrique Eusébio da Silva (Gunga), 17 anos, a namorada Viviane, Hudson de Oliveira Silva, 16 anos, Antonio Carlos da Silva, 17 anos, e Hédio Oliveira do Nascimento, 30 anos, se juntaram aos demais e foram até o sítio de dona Laudicena Oliveira do Nascimento, mãe deste último, e avó de Wallace.
O caso que começou com o seqüestro de 11 jovens do subúrbio do Rio de Janeiro mudou a rotina de 11 mães, que ficaram conhecidas como as Mães de Acari. Vera Lucia Flores Leite, hoje com 58 anos, é mãe de Cristiane e conta que a procura pela filha fez com que ela largasse o serviço para acompanhar as investigações juntos com os policiais. Vera, que na época morava próximo a Acari, na Fazenda Botafogo, diz que enfrentou desconfianças das pessoas que moravam na favela, quando lá chegou em busca da filha. “Notei que as pessoas se retraíram quando eu cheguei, eles achavam que por eu ser mulher se policial ia passar informações, mas eu estava ali à procura da Cristiane”, lembra a mãe, que soube da viagem que a filha havia feito em companhia dos amigos apenas quando foi comunicada acerca do desaparecimento. Vera Lucia conta o marido saiu de casa no final de 1990: “Meu ex-marido teve uma reação estranha, não tomou partido, nunca participou de nenhum movimento”, afirma Vera Lucia, que logo passou encontrar apoio nas outras Mães de Acari.
A causa
Marilene Lima e Souza, 54 anos, e Vera Lucia são duas das mães mais envolvidas com a causa atualmente. Marilene, que também deixou o trabalho para dedicar-se à procurar pela filha, após 16 anos, constata: “Eu me desqualifiquei para o mercado”. A mãe de Rosana Souza Santos, que hoje estaria com 35 anos, tem outros quatro filhos, mas reconhece que a busca pela filha desaparecida “adormeceu não só profissional, mas a mãe e a mulher”. Logo no início da entrevista, realizada pouco antes de uma manifestação em frente ao Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, Marilene desabafou: “Eu tenho a certidão de nascimento, mas não tenho certidão de óbito da minha filha. As Mães de Acari são mães de filhos pobres, com dificuldade para criar seus filhos com dignidade e querem enterrá-los com dignidade”.
Márcia Pereira Leite, professora de sociologia da UERJ, considera que a decisão de tornar a dor pública representa um desejo de transformar o caso em uma causa. “Esta luta está muitas vezes relacionada ao ato de limpar a memória do próprio filho, fazer justiça e dar um sentido para que a morte dele não tenha sido em vão”, observa a pesquisadora, que ressalta ainda a importância da formação de uma rede de apoio mútuo e da troca de informações para que as mães conseguissem persistir.
Para Carlos Nobre, jornalista e autor do livro Mães de Acari: uma história de luta contra a impunidade, a ausência dos corpos favoreceu a reação das mães em busca de informações sobre o paradeiro de seus filhos: “houve um vácuo de corpos e isso despertou nas mães outro tipo de interesse, porque se houvesse corpos, elas iam enterrar e sepultar, iam se conformar porque já estavam acostumadas com uma ação de grupos paramilitares.”
Vera Lucia e Marilene, na década de 1990, conseguiram entrar em contato com movimentos de mães de vários lugares do mundo, chamando a atenção de organismos internacionais de defesa dos direitos humanos para o desaparecimento de suas filhas e dos outros seqüestrados. Marilene ressalta um aspecto positivo de carregar o “rótulo de Mãe de Acari”: “Hoje nós temos inserção Há uma grande família de mães de vítimas da violência”. No início, não eram recebidas nas delegacias e nem por autoridades. “Eles diziam que não iam receber mães chorando”, se queixa. Para Vera, o contato com a Anistia Internacional foi muito importante. “Hoje eu sei onde eu posso entrar. Eu entro, saio e as pessoas têm que me respeitar,” afirma.
A advogada responsável pelo caso Acari, Cristina Leonardo, diz que “as Mães de Acari foram precursoras no Brasil”. Seis anos após o desaparecimento dos 11 de Acari, a advogada organizou uma campanha com as Mães da Cinelância e de Acari. A campanha ganhou grande notoriedade ao ser envolvida na trama da novela Explode Coração, da autora Gloria Peres, exibida em horário nobre. “Como as Mães de Acari tinham mais experiência do que as que estavam ali na Candelária, eu coloquei elas como monitoras, como agentes multiplicadores”, explica a advogada, que foi assistente de acusação nas chacinas de Candelária e de Vigário Geral. As duas ocorreram em 1993 e deixaram um saldo de 29 mortos.
No início deste ano, em 15 janeiro, uma das Mães de Acari mais ativas à época, foi morta a tiros quando deixava um presídio, onde dava continuidade às suas investigações paralelas para descobrir o paradeiro de seu filho. Edméia, mãe de Luiz Henrique da Silva Euzébio, testemunhou a extorsão que estaria ligada ao desaparecimento de seu filho e dos amigos no sítio em Suruí. Vera Lucia conta que Edméia sofria várias ameaças. “Ela era uma líder na comunidade e recebia bilhetes para que calasse a boca”, relata Vera, para quem “a morte de Edméia derrubou o grupo”.
O coronel da Polícia Militar Walmir Alves Brum, que investigou o caso atuando na corregedoria da PM, acredita que “as mesma pessoas envolvidas na morte de Edméia estariam envolvidas na Chacina de Acari. O coronel afirma que recebeu informações sobre uma testemunha capaz de identificar os executores da Mães de Acari. A investigação está em curso no Ministério Público do Rio e Brum garante: “Só não vão chegar aos culpados se não quiserem, porque eu indiquei o mandante e os executores, mas não tenho atribuição para fazer esse tipo de investigação. Somente a Delegacia de Homicídios poderia fazer isso”.
No mesmo ano do assassinato da Mãe de Acari, Mário Luis de Andrade Ferreira (Mario Maluco) foi preso, julgado e absolvido por unanimidade. Brum afirma que ele próprio foi uma das testemunhas que inocentaram Mario Maluco. “Ele foi confundido. Só participaram policiais da morte de Edméia. Até havia um que não era policial, mas que tinha envolvimento com eles”, defende o coronel.
Quanto ao episódio da extorsão realizada por policiais, Brum afirma que, na época, esta foi devidamente esclarecida. “Mas por uma manobra que a gente não conhece bem, a promotora do caso, da auditoria militar, arquivou o procedimento. Isso é um fato que chamou atenção porque a motivação do crime foi a extorsão que acontecia dentro da favela.” O coronel acrescenta que “os policiais acharam que foram enganados pelos criminosos”.
FREITAS, Rita C. S. Mães de Acari: preparando a tinta e revirando a praça – um estudo sobre mães que lutam. Rio de Janeiro: Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2000. (Tese de Doutorado).
NOBRE, Carlos. Mães de Acari: uma história de protagonismo social. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Pallas, 2005.
______. Mães de Acari: uma história de luta contra a impunidade. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.
BIRMAN, Patrícia (Org.) ; LEITE, Márcia Pereira (Org.) . Um Mural para a Dor: Movimentos cívico-religiosos por justiça e paz . Porto Alegre: UFRGS/Pronex, 2004.
sexta-feira, julho 23, 2010
Nixon confessa 'o erro do coração'
Fonte: http://bit.ly/bjjqxV
Revi o filme Frost/ Nixon. Sensacional este trecho final da famosa entrevista, aqui reproduzida em sua versão real! No momento em que Nixon diz ter decepcionado todos (minuto 07'), o entrevistador é enquadrado no vídeo com os olhos marejados numa perplexidade paralizante... Parecia não acreditar no que conseguira 'arrancar' daquele rochedo humano. De repente, tão fragilizado e confesso.
Tentei lembrar de uma situação parecida no Brasil. Digo, busquei lembrar de uma confissão tão simbólica ou situação que o valha... Nada me ocorre. Não me deixarei levar, prometo, pelas inadequadas abordagens que valorizam a democracia norte-americana em face de nossos "desajustes" e "atrasos". Mas bem que faz falta uma passagem destas em nossos livros de história. Não o gate! Falo do 'acerto de contas'.
Poderia ser até mesmo algo do tipo: E no dia 31 de março de 2014, 50 anos depois do golpe civil-militar, os militares finalmente reconheceram, por meio de seu mais alto escalão, o terrorismo de Estado dirigido contra centenas de opositores do regime militar. O pedido público de desculpas às vítimas de torturas e àqueles que viveram o 'desaparecimento' de seus entes não apagou o passado. Ao contrário, inaugurou no Brasil um novo padrão de relacionamento com a história e a memória . Fade out.
A impunidade é apenas mais uma ideia/ prática de "longa duração"¹...
¹BRAUDEL, Fernand. "História e ciências sociais: a longa duração". In: Escritos sobre a história. SP: Perspectiva, 1978, pp. 41-77
quinta-feira, julho 22, 2010
sexta-feira, julho 16, 2010
Filosofia de vida:
segunda-feira, julho 12, 2010
Amiga de infância...
segunda-feira, julho 05, 2010
segunda-feira, junho 07, 2010
Scorza e 'A dança imóvel' movendo o passado
Trecho do artigo A dança imóvel de Scorza e o tempo como ferramenta metodológica, de minha autoria, publicado no novo número da Revista Comunicação & Política. O artigo é sobre o livro A dança imóvel (1983), do peruano Manuel Scorza.
Para ver a revista completa clique aqui:
Em 28.11.1983, Claudio Abramo publicou na Folha de S. Paulo o artigo A falta de sorte de um mestiço dos Andes em que fala da vida, da obra e da morte de Manuel Scorza: O texto, publicado em A regra do jogo (p.202), pode ser lido aqui: http://bit.ly/9jBAVS
quarta-feira, junho 02, 2010
citando http://alevezadoser.blogspot.com/
terça-feira, junho 01, 2010
Um fundamento...
“Seu tempo [dos pichis] é puro presente: e sem temporalidade não há configuração do passado, compreensão do presente, nem projeto. Como futuros mortos, os pichis só conseguem pensar num adiamento do desenlace, hora após hora, esquivando-se desse desenlace e, ao mesmo tempo, despojando-se da ilusão de que existe algum tempo para eles. Nessas condições de miséria simbólica, o romance apresenta as condições de miséria material e as artimanhas das transações num mercado que também é puro presente”.
Fonte: SARLO, B. Não esquecer a guerra das Malvinas – sobre cinema, literatura e história. Em: SARLO, B. Paisagens imaginárias: Intelectuais, Arte e Meios de Comunicação. Tradução Rubia Prates e Sergio Molina. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997. (Ensaios Latino-americanos; 2) (pp. 43-54) p. 48.
segunda-feira, maio 24, 2010
Beatriz Sarlo
A História contra o Esquecimento em Paisagens Imaginárias:
"...nunca se pode saber tudo, nem nunca podemos nos resignar a um saber parcial e ao mesmo tempo inevitável (como o de toda prática) e inimigo da memória. Aceitando-se "saber menos", aceita-se a possibilidade de esquecer. E aceitando-se a possibilidade de esquecer, o passo seguinte não é a repetição (pode até ser, ou não) mas o ato de renunciar aos valores que o holocausto quis destruir junto com a destruição dos judeus."
sexta-feira, maio 21, 2010
Apreço
E o fim, de repente, se disfarça de recomeço
Que sem querer até me esqueço
Que o fim não é a chegada,
Mas a estrada do meu apreço."
domingo, maio 16, 2010
sábado, abril 24, 2010
Wild(e)
sexta-feira, abril 09, 2010
A triagem
A triagem das roupas, que vem sendo feita nos últimos dias, conta com um batalhão de centenas de voluntários. Desde jovens universitários até senhoras aposentadas. Cada novo integrante que se apresenta recebe dos demais as primeiras orientações. Primeiro passo: luvas.
Mais que roupas, histórias são doadas. Cada uma delas encontra-se registrada na peça que chega para ser separada, categorizada e encaminhada para novos donos. E, mais adiante, novas histórias serão escritas...
- Um homem forte! - brinca uma moça ao solicitar que um dos garotos a ajude no transporte de mais um saco verde, devidamente preenchido e etiquetado.
A pilha de roupas se refaz em questão de minutos, deixando a sensação de que quanto mais seleciona-se, quanto mais separa-se de um lado, mais vão se acumulando novas doações do outro.
- Parece que não vai acabar - afirma uma senhora.
Outra moça de cabelos loiros e ralos entoa um Roberto Carlos com sotaque meio gringo enquanto retira daqui e separa ali.
- Roupas íntimas masculinas?!
- Tem que abrir um saco de roupas íntimas masculinas!
'Abrir um saco', na triagem, significa etiquetar um dos sacos verdes - onde as roupas são depositadas durante a triagem - identificando tipo e gênero. Escreve-se: "Roupas íntimas masculinas". Pronto!
Ursos de pelúcia, um livro de Biologia, bonecas, sutiãs, calcinhas, cuecas, meias, saias, vestidos, casacos, cortinas, pano de prato, travesseiro, talheres, botas, sapatos, sandálias... Em poucos casos, falta um dos pares; o que se fará nesses casos? Separa-se num canto. No final, é possível que sirva para alguém aquele par perdido.
Mas outros 'pares' ainda estão sumidos. A imprensa apresenta estimativas e contabiliza. Seriam mais de 200 sob toneladas de terra. O que se fará nesses casos? Escavar, torcer, esperar e rezar.
(Sábado, 10 de abril de 2010, 19h: 223 mortos em todo o Estado do RJ)
Alguém sugere que, com a avalanche de doações, já há roupas suficientes. Seria bom incentivar a doação de alimentos e de outros artigos mais necessários e urgentes.
Há pilhas de tudo. Pilhas de roupas, de colchões, de biscoitos, de farinha, leite, arroz, papel higiênico, sabonetes, pasta de dente, fraldas... Há pilhas bem organizadas, esperando para serem desmontadas à medida que as cestas básicas são preparadas.
O fato é que o muito será insuficiente para aqueles que perderam tudo, ou quase tudo. Isso não diminui em nada a importância da solidariedade - o lado bom das tragédias, ressaltam os repórteres.
Parece mesmo quesito jornalístico ressaltar o lado positivo de situações trágicas. Afinal, "é o brasileiro mostrando que sabe ser solidário...", enfatizam. Parece lamentável, contudo, que as pessoas precisem chegar à situação de quase indigência para terem direito à visibilidade. A solidariedade acaba sendo filha adotiva da desigualdade social.
Em 2007, parte da comunidade do Morro do Céu, vizinha do agora internacionalmente conhecido Morro do Bumba, gritava aos quatro ventos que não desejava a construção do 'aterro controlado'. Já haviam dividido espaço por mais de duas décadas como um verdadeiro "lixão" a céu aberto. A possibilidade de construção do aterro representava ampliação de um pesadelo bastante real, como problemas de pele, doenças respiratórias, a contaminação do lençol freático e da vegetação local. Todos esses problemas foram expostos durante audiência pública realizada à época na Câmara dos Vereadores. Não teve muito eco...
***
Técnicos da defesa civil, guardas municipais e outros funcionários da prefeitura dão logística à solidariedade. Comunicam-se através de rádios e celulares. Parecem monitorar os diversos lados da corrente. Sim, não deixa de ser corrente. Construída às pressas para dar conta do que, por sorte, avalanches e improbidade deixaram de pé.
É hora do almoço. Um dos voluntários descola 10 'quentinhas'. A sugestão é para que sejam consumidas pelos que moram mais longe. Os outros em algum momento deixarão o local para comerem algo, um sanduiche talvez. Outros sequer se deram conta de que o corpo pede sustentação e 'saco vazio não para em pé'.
***
'Gabriela' na triagem dos calçados
A mulher estava agachada. Seria Gabriela, cravo e canela, escalando o telhado de mais uma casa? Não... A senhora apoiava o peso sobre as pernas dobradas, sem encostar o joelho no chão. Seria a mulher aranha? Não...
Nas mãos, apenas sapatos. Estava cercada por centenas de pares, dos mais diferentes. Seu trabalho era o seguinte: selecioná-los, juntá-los e identificar segundo o gênero dos destinatários. A mulher dedicava-se compenetrada àquela atividade. Já havia passado pela triagem das roupas depositadas nos sacos verdes. Agora trocava algumas palavras com outras mulheres, também voluntárias, também dedicadas e compenetradas.
Prosseguiu alguns minutos até que seu anonimato fora interrompido pela repórter.
- Sonia, Sonia! Vamos gravar?
A pele mais branca, o rosto desprovido dos disfarces da maquiagem, um vestido simples e a bolsa preta transpassada no ombro. A repórter entrevista Sonia Braga, estrela internacional do cinema nacional e atual moradora da cidade de Niterói. A atriz convida o telespectador a também fazer sua doação, empresta sua imagem à nobre causa e em seguida volta ao seu trabalho. Há muitos pares para unir, identificar e ensacar.
Lamentavelmente, contudo, outros pares permanecerão desunidos. E este problema deve inspirar enredos mais criativos para a história da cidade, do Estado e do país. A começar pela participação de novos roteiristas...
quinta-feira, abril 08, 2010
Nota de esclarecimento dos moradores de favelas de Niterói
8 de abril de 2010
Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões.
Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público.
A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas.
As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte. Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.
Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente.
Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e e sua história em situações como a que vivemos agora.
Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas.
Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas, que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.
Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói
Associação de Moradores do Morro do Estado
Associação de Moradores do Morro da ChácaraSINDSPREV/RJSEPE – Niterói
SINTUFFDCE-UFF
Mandato do vereador Renatinho (PSOL)
Mandato do deputado estadual
Marcelo Freixo (PSOL)
Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)
Movimento Direito pra Quem
Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares
quarta-feira, abril 07, 2010
A árvore... (Morro do Estado, 2007)
Estive lá em 2007. Foi impressionante ver aquele amontoado de pessoas dividindo minúsculos espaços - uns ainda mais apertados e comedidos que outros. Entre as melhores coisas que vivi ao longo do breve contato com o jornalismo foi conhecer melhor as comunidades de Niterói, e atravessar 'fronteiras' (invisíveis) nunca ultrapassadas por mim - por receio e desconhecimento. O primeiro produzido pelo último.
Quando possível, me auto-escalava para 'pautas sociais'. Em algumas oportunidades, percorri cantos alheios à Niterói que conhecia até então. Distante da cobertura policial, a qual essas áreas estão quase sempre relacionadas, procurava novas abordagens. E uma delas me deixou particularmente satisfeita.
Num domingo de 2007, numa visita 'exploratória' pelo Morro do Estado, durante meu esvaziado plantão de fim de semana, fui levada a conhecer algumas famílias. Aquelas pessoas há tempos buscavam permissão e ajuda para remover uma enorme árvore que ameaçava desabar e atingir as casas semeadas ao seu redor.
A árvore era enorme, cheia de galhos e raízes que se misturavam com as casas ali assentadas. Após conversar com alguns moradores fui me dando conta de que tratavam-se de famílias migrantes, nordestinas, que viviam no pé da enorme árvore, e formavam elas próprias uma mesma árvore genealógica. Um era irmão do outro, que era primo daquele, que era sobrinho de alguém mais adiante, que era filho... E por aí seguia.
Hoje, ao receber o e-mail abaixo reproduzido, e tendo ouvido no rádio a contabilização dos cadáveres desse lado de cá da Baía, me lembrei daquela enorme família - de seus galhos e ramificações. Bateu uma curiosidade de saber como estão. Será que a velha árvore continua de pé? Será que os moradores ainda dividem espaço com aquelas enormes raízes e galhos? Teria a árvore sido retirada para evitar tragédias futuras como as que vejo noticiarem no rádio e na TV? Como estão aqueles quase conterrâneos (sou filha de nordestino e não consigo deixar de me sentir um pouco pertencente àquelas bandas mais próximas do Equador)? Incomodada, vou amaciar minha curiosidade... Mas como seria bom 'pescar' das ondas do rádio - ou de algum outro veículo - alguma informação. Qualquer uma... Ou melhor, uma das boas! Tento me convencer de que notícia ruim chega rápido. Agora pouco ligou um amigo contando sobre a morte de distantes conhecidos naquele mesmo morro.
Torço para que a árvore genealógica que conheci há três anos não tenha perdido um galho sequer. E que outras sejam poupadas.
ps2: Projeto de Lei iniciou o debate em 2007 sobre proibição de novas licenças de construção de prédios na cidade
http://bit.ly/bpuSJc
***
Informe da APN - Agencia Petroleira de Noticias
quarta-feira, março 31, 2010
De novo Mandela...
Já falei aqui sobre Nelson Mandela. Agora volto ao seu nome, mas com a desculpa de comentar o filme Invictus que vi há pouco. Não chega a ser uma coincidência que um momento de profunda melancolia tenha antecedido meus dois recentes 'contatos' com Mandiba* - através do documentário e da ficção. Não é casual que ambos tenham resultado, em momentos distintos, num sentimento de gostoso fortalecimento. Para usar uma palavra chave do filme, chego a sentir essa inspiração chegando perto...
Se uma informação qualquer exige que emissor e receptor sejam atuantes para fluir, eu fiz a minha parte. Estava receptiva à mensagem. Mesmo com os clichês de uma produção hollywoodiana, com suas mensagens de superação, união, patriotismo... E isso não necessariamente possui um caráter negativo, embora sejam bastante incômodos aqueles famosos discursos pré-batalha, do "nós" versus o "outro", onde a vitória de um (o bem) significa necessariamente a derrota do outro (o mal). Eis que multiplicam-se no cinema verdadeiras cruzadas. Aliás, essa divagação me lembra que preciso ver Guerra ao terror. Soube que a tradução do título é pra lá de infeliz!
No filme de Eastwood, por sua vez, a história fez prevalecer uma ampliação do "nós" com a incorporação, ainda que gradual, do "outro". É, nesse sentido, até interessante observar as cenas finais exploradas em câmera lenta, onde jogadores adversários formam um conjunto aparentemente uno, indiviso. Na tela vemos a delicadeza improvável de um balet "tribal" entre adversários e companheiros sobrepostos, imprensados uns contra os outros.
Além disso, Morgan Freeman (free man... vem a calhar!) me convenceu e cativou como Mandela.
Enfim, gostei! Vi com a emoção de hoje e ela, quem sabe, ajudou a acrescentar o que Eastwood, talvez, não conseguiu.
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
segunda-feira, março 15, 2010
Apresentando um poeta...
Política, amor, sexo, paixão, alienação, História, golpes e revoluções, dor e êxtase: tudo é matéria prima.
Produção independente
Ao contrário das concepções in vitro, a de Guilherme ocorrera 'na expansão do universo.' Suas intensas palavras versam sobre as coisas gigantes: "A saga do poeta é aspirar ao total, e diante do total, há muito pouco a ser dito". Talvez por isso, numa dialética bem armada, Guilherme acabe se dedicado a "capturar a fração, o instante preciso de sua revelação". A erudição do autor é somada à sua capacidade de sentir e de deixar-se afetar pela grandeza das coisas prosaicas, bem como pelo cotidiano das grandes experiências e potenciais transformações.
sexta-feira, março 12, 2010
Epígrafe para ditadura militar...
era o envelhecido e desiludido Coronel
Aurélio Buendía, que pouco a pouco foi perdendo
todo o contato o contato com a realidade da nação.”
(...)
“Não fale de política", dizia o coronel.
“O que nos interessa é vender peixinhos”
(Cem anos de Solidão – Gabriel García Márquez)
terça-feira, março 02, 2010
Julie Delpy - A Waltz for a Night - Before Sunrise
Com esse filme aprendi que os finais de filme não precisavam ser 'mastigados'. Mas isso não me impede de desejar, ainda, que houvesse uma continuação...
- Baby, você vai perder seu voo. - Eu sei.
segunda-feira, março 01, 2010
Ambiguidade beauvoiriana
Por Email...
- Pensei agora: acho que tenho um pouco da ambiguidade beauvoiriana... A diferença é que nunca disse, nem publiquei livros dando a entender que eu era outra, diferente rsrs. Mas verdade seja dita: ninguém pode ser culpado por não ser uma coisa só.
Resposta...
sábado, fevereiro 27, 2010
Por falar em liberdade...
Acabo de ver o documentário sobre a vida desse homem. Um homem apenas. Ele mesmo faz questão de desmistificar sua imagem: "Não sou um santo". Então estas palavras não são sobre santidade, perfeição, modelo ou paradigma. Mas sobre exemplo, um dos muitos, sobre experiências... O documentário é sobre um homem que passou 27 anos na prisão, que foi vítima da política racista do apartheid, e que, valorizando a educação, usou essa arma contra seus opressores, tornando-se o primeiro presidente de uma África do Sul mais igualitária, posta no caminho da reconciliação nacional, da paz interracial. Esse caminho, acabo de ver, não foi um caminho de esquecimento. O passado não precisava ser esquecido, mas precisava ser tornado passado, para nunca mais voltar a ser repetida a opressão entre seres humanos diferenciados pela cor da pele. No final de uma Copa Mundial de Rúgbi, Nelson Mandela vestiu o uniforme da seleção nacional, embora aquele fosse um esporte identificado com o branco, o opressor, o "outro".
Mandela convenceu seus companheiros de luta a aprenderem o idioma do inimigo, o "africâner" - língua do ramo germânico do grupo indo-europeu falada na África do Sul e na Namíbia. Negociou sua verdade no idioma de seu opressor.
Cenas da Truth and Reconciliation Comission me comoveram até as lágrimas. Consistia, entre outras coisas, no diálogo aberto de torturados diante de seus torturadores. Um diálogo sem limites, às claras. A descrição das torturas pelos seus sobreviventes foi feita perante os algozes ou perante aqueles que, por omissão, permitiram que ela ocorresse. Só uma democracia forte resiste às verdades. Ou melhor: uma democracia para tornar-se mais fortalecida exige verdade, transparência. E essa oportunidade foi dada ao país durante aquela transição democrática. A reconciliação não pressupôs empurrar a poeira por debaixo do tapete. Isso porque nenhuma história de silenciamento escapa do "retorno do oprimido", seja ele como for - pela violência declarada ou pelos sintomas de que a violência se fantasia. A história de Mandela, as imagens desse documentário, o ritmo africano - que, aliás, sempre exerceram uma espécie de encantamento sobre mim -; enfim, toda essa carga de emoção desviaram minha rota nesse dia. E quem pode prever o que provocará uma reação dessas? Eu não pude, mas fico satisfeita com o efeito provocado. Questões que me mobilizam atualmente, na forma de reflexões teóricas a serem postas no papel, ganharam esse reforço. A habilidade do negociador Nelson Mandela, sua característica de se opor sob uma tranquilidade invejável, sua postura de homem íntegro, cuja paciência se revestira de persistência.
Herói? Mito? Rótulos apenas, como tantos outros. Apontado no documentário como homem midiático e hábil na arte de comunicar-se, além de sobreviver à prisão, Nelson Mandela sobreviveu aos rótulos.
Estas são palavras imbuídas da emoção, da motivação pela estética do documentário. Um amigo outro dia quis contrapor sua própria "ciência" ao meu "tendencioso" encantamento pelas manifestações estéticas. E não é a estética algo político? Que poder tem os cantos africanos entoados pelas vozes femininas em pleno Congresso quando Mandela anuncia seu afastamento da vida política, abdicando de concorrer a um segundo mandato! "Nelson Mandela, Mandela, Mandela", canta a mulher seguida pelos demais presentes. Um outro colega me disse: "Essas são histórias de outra geração, outro tempo, outros valores". Com a afirmação parecia tentar convencer-me de uma defasagem. Não penso assim.
No meio do documentário, lembrei que a Copa deste ano será justamente lá, na África do Sul. Que outra desculpa melhor para nossas professoras daqui levarem para as salas de aula um pouco dessa história? Não como algo do passado, não com o tom saudosista de uma época heróica. Não é disso que se trata. Mas de uma experiência rica em elementos passíveis de comparação (contrastes?) com a nossa própria história. Se o desafio está em atrair a atenção dos mais jovens, em falar numa frequência que os estimule no sentido da valorização do conhecimento, da educação em sentido geral, haverá "gancho" melhor neste ano?!
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. (John Donne)
"Amandla!"