Todo meu trabalho, em dois longos anos de leituras e escritas, fundamenta-se numa ideia. E ela é a mesma ignorada pelos pichis, aquela colônia subterrânea de sobreviventes da invasão das Malvinas da qual desapareceram todos os valores, exceto os que lhes possibilitavam conservar a vida. Os pichis viviam num puro presente, como conta a argentina Beatriz Sarlo em referência ao romance Los pichiegos, de Fogwill:
“Seu tempo [dos pichis] é puro presente: e sem temporalidade não há configuração do passado, compreensão do presente, nem projeto. Como futuros mortos, os pichis só conseguem pensar num adiamento do desenlace, hora após hora, esquivando-se desse desenlace e, ao mesmo tempo, despojando-se da ilusão de que existe algum tempo para eles. Nessas condições de miséria simbólica, o romance apresenta as condições de miséria material e as artimanhas das transações num mercado que também é puro presente”.
Fonte: SARLO, B. Não esquecer a guerra das Malvinas – sobre cinema, literatura e história. Em: SARLO, B. Paisagens imaginárias: Intelectuais, Arte e Meios de Comunicação. Tradução Rubia Prates e Sergio Molina. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997. (Ensaios Latino-americanos; 2) (pp. 43-54) p. 48.
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