Até quando vou atravessar os outros como se eu estivesse dentro de um carro olhando a vida correr lá fora e esperando o momento certo de descer? Até quando vou sentir que há um sinal fechado logo ali adiante, justamente em frente àquele lugar onde eu queria dar uma paradinha, e quem sabe ficar um tempo? Até quando vou me cansar de um ano e correr para comprar a agenda do seguinte, tentando recomeçar a viagem que já dura mais de 20 primaveras. Até quando vou fazer questão de me jogar do carro justo nos lugares mais obscuros só para me certificar de que não estou perdendo alguma luz escondidinha e impossível de se ver da homogeneidade retilínea da estrada? Até onde vou ter que ir para encontrar o lugar que estava no cantinho do mapa que rasgou? Até quando vou procurar justamente pelo cantinho rasgado, quando há um mapa enorme indicando novas direções, novas possibilidades? Até quando vou me perguntar “quantos quilômetros faltam?!”? E quantos quilômetros faltam? E aquela sensação de que esqueci de carregar algo para essa viagem? Algo, que não encontrarei em nenhuma parada na beira da estrada, mas que, eu sinto, me fará uma falta enorme! É uma bagagem, uma leitura, um contato, um lugar, uma experiência, uma tentativa, um erro, um desafio, uma bobagem estratégica só para contrastar, só para dispersar... É uma nota, uma melodia, uma história, uma patota, uma farra, “um espinho na mão, um corte no pé”, uma meditação, uma pausa para ir mais longe... Mas onde mesmo?!
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"(Carlos Drummond de Andrade)
Stop!
O carro parou
Ou foi a vida?