sexta-feira, outubro 19, 2007

Sendo, co-sendo e descosendo...

La Maja vestida - Francisco de Goya
Museo del Prado



Sou mais eu quando não estou aqui. Acho que em seus braços sou um pouco eu também. Mas sou mais a projeção do que você espera de mim. Sou mais eu quando estou além-mar ou em pátrias outras. Longe de todos que amo e da recíproca verdadeira faz mais sentido ser aquela que persigo aqui dentro. Naqueles lugares em que sou desconhecida, tudo me revela mais do que aqui, onde já vim transparente demais e preciso me armar com máscaras e pudores. Pois, que seja! Vou sendo no “onde” que houver, cada momento de uma vez... E agora, momento em que não encontro espaço para ser além de rotina e leitura, vou sendo e co-sendo bem devagar e em sua companhia. Mas, de noite, desfaço o bordado para permanecer mais tempo aqui, quem sabe ao seu lado. Quem sabe... (M.L.C.M.)


La Maja desnuda - Francisco de Goya

segunda-feira, outubro 15, 2007

Roubos

Sem pudor, roubei esta citação de um blog alheio, como faço quando gosto de alguma coisa... Não, não sou cleptomaníaca. Isso se restringe às citações e a outros bens não materiais. Nada de atentar contra a propriedade privada, te asseguro John Locke.
Segue...
"A descoberta da mulher de nossas vidas funciona como uma boneca russa. Você tem que ir abrindo cada uma delas, uma escondida dentro da outra, até chegar à última. Mas você nunca sabe qual é a última boneca até chegar nela. E às vezes ficamos com medo de ver se ainda há outra boneca escondida dentro daquela que a gente julga ser a última." (Filme Bonecas Russas)
Pois, sigamos todos na descoberta deliciosa do outro, dia após dia...
***
"O presente me exige doses cavalares de racionalismo".
Por mais que a Anna me diga ser anti-ético se citar, gostei desta frase que surgiu no comentário do Firulas.
Aliás, aproveito para mais um roubo...
Sábado, Setembro 22, 2007

Um retrato cretino da esperança
Quando ela saiu, fez questão de levar a chave e deixá-lo trancado em casa. Disse para esperá-la, que voltava, e que trazia pão fresquinho e carinho. Que esperasse. Depois, bateu na casa de cada vizinho e convenceu a todos que deveriam sair dali. Que era melhor, e que não se preocupassem, que ela chamava a empresa de demolição. Derrubou-se todo sinal de moradia num raio de quilômetros, até onde a vista dele alcançava. Dedetizou a região; mataram-se as pragas, e junto com elas simpáticas formigas, grilos, gatos e marias-sem-vergonha. Depois, calou o vento e os pássaros. Em seguida, mandou apagar o sol, e desintegrar a lua. Voltou um tempo depois, e parou em frente à casa trancada. Sem ar que vibrasse as suas palavras, teve que passar um bilhete por baixo da porta. Avisava que demoraria mais um pouco, que era um imprevisto, que esperasse. Despedia-se com um beijo, cheio de promessas. Depois, fez queimar o bilhete, e a si mesma.Que esperasse.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Pontaria

Você que me fala de outras vidas
Você que me fala de vôos altos
Você com quem compartilho deliciosas biografias
Como pode me dizer que só tenho uma bala em meu revólver?

Não introduza sua interpelação com questões racionais
Pois ,enquanto escrevo, descarto a métrica decartiana
Pois, enquanto escrevo, quero apenas pensar plural
Pois escrevo, e isso é “mirar apontar e fogo!”

Meu amigo, que tanto prezo, não me prive de suas perguntas cruéis
Elas me fazem pensar, ajustam o foco da minha pontaria
Mas não me diga que não posso atirar...
E, acredite, não falo inspirada por utopia ou inocência estúpida


Não vê que já saí da caverna há tempos!
Já aprendi a enxergar além de umbigo e sombras
Ao pesar cada "apesar" reconheço um foco de luz...
Que emerge da urgência, mas é caminho e não carência

quinta-feira, outubro 11, 2007

Gramsci e a manicure

Enquanto entregou as unhas, lia algumas páginas do Intelectuais e a Organização da Cultura. A manicure, dedicada à tarefa orgânica de cuidar de seus quatro filhos e marido, seguia em silêncio. Uma com seu livro e a outra em seu sua tesoura, lixa e alicate. Uma com o livro que tomara emprestado do professor da faculdade. A outra com seus próprios meios de produção.

Lá pela metade da cutícula do mindinho da mão esquerda, a manicure já sentia falta do diálogo, sempre tão farto entre ela e suas clientes. Sem conter a língüa, disparou sem piedade sua pergunta, antes de aplicar uma dose sequer de anestesia. Como se arrancasse um bife daqueles enormes, lançou:


- Este livro responde as tuas perguntas?!
Pergunta pontuda! Estavam bem afiadas as ferramentas da manicure!
O silêncio permaneceu. Não se ouviu nem ao menos um "ai".

Ainda assim, um pensamento mudo ousou desafiar lixa, tesoura e alicate:
"Essas manicures estão cada dia mais abusadas!"


segunda-feira, outubro 08, 2007

"Vou pra rua e bebo a tempestade..."

"Existe uma pessoa que está ao seu lado, silenciosamente apenas no movimento barulhento das coisas aparentes, porque percebe que o mestrado é apenas pretexto para você empreender a busca da tempestade (sem o risco dos trovões que ferem, mas com os raios que nos alentam). Creio que sou um dos pouquíssimos a perceber você na totalidade, senão o único, e isso é ouro."

ps: Depois vou buscar uma imagem que faça jus a essa injeção de ânimo na veia!

segunda-feira, outubro 01, 2007

Manifesto à insanidade (Para Anna)

Assumo sem medo ou arrependimento: Sim, falta um parafuso aqui! Falta um peso nessa balança, falta um ponto na frase, uma vírgula, um parágrafo, uma conjunção ... Admito! Falta "preparo emocional" para lidar com as surpresas do dia-a-dia. No caso, contudo, já que, não tendo o poder de prever o futuro, a partir do momento que ponho o pé na rua estou me deparando com uma surpresa. A inesperada chuvinha justo quando saí desprevenida, o sol que saiu naquele dia que apostei na manga cumprida, o encontro na noite que decidi chegar mais cedo em casa para estudar...


Logo, reconheço que mereço meu "primeiro lugar", que, claro, não é só meu. É de todos aquele que me ajudaram a chegar até aqui. De todos que contribuem diariamente para minha "leve" instabilidade. Vou começar pelos buracos. Eles estão sempre no meio do caminho, justo no caminho da minha bicicleta. Impossível não desequilibrar.