quinta-feira, agosto 06, 2009

Cambiando de mundo...

Um amigo me disse hoje que deve morar em Angola pelo próximo ano. Outro está procurando um inquilino para eu 'cafofo' em Copacaba (R$ 1.200,00 "com tudo incluído" - fiz a propaganda e quero minha parte...). Enquanto uns partem, outros se (re)encontram.

"O máximo que eu conseguia com ele era me lembrar de você". Um terceiro amigo reinaugura uma história de amor ao som dessas palavras, ditas por uma "ex", futura "atual". Antes, porém, meu amigo terá a difícil tarefa de comunicar a reviravolta da trama para a terceira ponta do triângulo. O ponto de virada é o retorno do romance passado, que agora pede para ser presente e futuro. Tudo junto. Isso significa um ponto final súbito no roteiro que vinha sendo rascunhado com capricho. O que me lembra aqueles fins estranhos de novelas com baixo índice de aprovação. Imagine se Machado de Assis escrevesse orientado pela divindade Ibope: será que Dom Casmurro correria o risco de terminar com um final feliz? Seria um desastre para nossa literatura!
Então, quem disse que os finais tem que ser sempre felizes, meu caro amigo?

"Ela tem um poder de fogo nos olhos que vai acabar comigo", disse ele, preocupado com o momento em que o triângulo terá que ser desfeito. Lembro-o daquela namorada, à época da faculdade. Tento defender a tese do "tudo passa"... "Ela era estranha", uma provocação. Trazia um botão fechado no lugar dos lábios. Sorrisos? Não cheguei a presenciar. Meu amigo conta que naquela época o namoro já estava desgastado. Mas um dia a moça havia sido atraente aos seus olhos: "Ela era a única menina que lia e pintava o cabelo de vermelho. Depois o tempo foi ingrato e ela acabou perdendo a graça para mim".

***
Comecei a escrever pretendendo fazer uma breve introdução. Lá se foi a brevidade em troca da fofoca... Enfim, o poema abaixo é de um uruguaio, falecido recentemente, que sabia como ninguém expressar essas coisas que versam sobre corações e finais. No poema com o qual me deparei há pouco, Mario Benedetti é certeiro com sua metonímia.
Assim que o poeta morreu no início do ano, recebi as seguintes palavras: "Mario Benedetti foi um dos últimos poetas a que me apresentaram e que valeu a pena conhecer (...) Apresentar um poeta a uma pessoa é coisa muito generosa. (Tanto, que às vezes, a gente até se engana com um gesto desses.) Gosto dos poucos versos dele que li. E gosto muito de você por, entre outras razões, fazer com que a gente leia coisas dessas na vida." São palavras de quem, longe, parece permancer. Ok, que seja...

Cuando la poesía

Cuando la poesía abre sus puertas
uno siente que el tiempo nos abraza
una verdad gratuita y novedosa
renueva nuestro manso alrededor
cuando la poesía abre sus puertas
todo cambia y cambiamos con el cambio

todos traemos desde nuestra infancia
uno o dos versos que son como un lema
y los guardamos en nuestra memoria
como una reserva que nos hace bien

cuando la poesía abre sus puertas
es como si cambiáramos de mundo.

*Poema inédito de la obra en marcha de título provisional: Biografía para encontrarme

Um comentário:

Stephanie disse...

outro dia eu jantava com Anna em São Paulo, lembrando de você e tentamos aos poucos reunir informações sobre o pessoal da turma: quem está onde, fazendo o quê, o sentido em que cada um está se movendo...

e se por um lado nos dá uma saudade, por outro bate um sentimento muito bom se saber que as coisas estão acontecendo (estamos fazendo com que elas aconteçam) embora num ritmo muito próprio - os amigos estão seguindo, aprendendo e o carinho permanece.

(e se você for visitar Anna em Sp qualquer hora dessas, me avisa, a gente bem podia armar de ir juntas)

beijos beijos

ah, e ess introdução que virou texto tá desprenciosa, levando a gente embora de pensar nos encontros e idas voltas que os romances dão...