terça-feira, agosto 29, 2006

Borrão (feito para ler sem respirar)


















Excesso
Ex-cessar
Não cesso
Energia em excesso
Pensar
Conteúdo bruto
Massa amorfa
Que pede para ser modelada
Que explode na tela
Qual puta dor
Ódio catarse


E é ela
Só ela entende e absorve
O que o mundo ignora
Porque é amorfo
Porque não é rosa
Porque não tem cor
Excesso de energia
Excesso de potencial
Excesso de pretensão
Tensão
Explode na tela
A tinta sem forma
Ruído e comunicação
É sim informação
Não está armada
Pronta para ser deglutida
É amorfação
Informação amorfa
Espera o apreciar ruminante
Daquele que sempre
Pode se dar o direito de perder tempo
Ganhando amorfação
Informação amorfa
Energia excesso tela borrão.
(MLCM)

quinta-feira, agosto 17, 2006

Por Anna:

_PÉSSIMA ATRIZ. Fora do elenco. Fo-ra. E não ouse mais colocar os pés no meu palco. Ouviu? Não OU-SE.

Vira-se para o ajudante, com muita classe:

_ Artur, acompanhe esta... esta menina até a saída.E quando ela já está quase saindo:

_Ei, menina, pensa em jornalismo. De repente tem mais a ver com você.

quarta-feira, agosto 09, 2006

terça-feira, agosto 08, 2006

Cenas do cotidiano...

(Imagem: Lisboa - Praça do Comércio)

- Filhinha, vovó foi para o hospital e depois vai para casa de papai do céu.
- É, eu vi. Foi lá no jardim. Ela caiu.
- Você entendeu, meu anjo? Vovó foi morar com papai do céu...
- Mas ela vai só com aquela roupa?
- É meu anjo... Lá em cima Ele vai dar roupa para vovó.
- Papai do céu dá roupa nova?

O pai abaixa a cabeça, rascunha um sorriso...

- É meu amor, papai do céu dá tudo que você pedir.



quinta-feira, agosto 03, 2006

Transversais 2

O beijo - Museé Rodin (Paris)
Clique na imagem para ampliá-la
Harmonia
(Anderson Sato)

No princípio tudo era novo
Incerto
Inseguro

As mãos e bocas vagavam
Descompassadamente
Seguiam

Permitiam-se a quase tudo
Depois a tudo
A mais que tudo

Das palavras cada vez mais desconexas
O descompasso se tornou sincrônico
As respirações ofegantes se uniram

O suor que escorria na pele
Pingou
Pingou
E pingou

No lençol branco só amassos
E suor

Ambos entenderam que dos erros de cada um
Da falta de tempo de cada um
Do atraso de cada um
A antecipação deles
Acabou por torná-los assim...
Harmônicos

E o galo cantou...
O sol raiou...
Amanheceu
Adormeceram.

Transversais

On me dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou
Pourtant quelqu'un m'a dit /Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?***


Poderiam ser como duas retas paralelas
E, reversos, nunca se cruzariam.
Ou, como na matemática, ansiariam até um tempo no infinito.

Poderiam ser como as perpendiculares,
Mas os corpos pesariam, desejando estreitar os 90º de distância.

Poderiam formar ângulos variados,
mas ainda sofreriam uma dolorosa ânsia,
esperando um encontro pouco obtuso, menos oblíquo.

Fosse assim, seguiriam como as retas
cada um em seu inabalável percurso.
Buscariam cada um seus sentidos e direções próprias.
Continuariam fiéis às fronteiras que, geometricamente,
separam suas formas.

Um não saberia da existência do outro.
E por isso, não conheceriam a vontade de rever, reencontrar.
Sequer esperariam pela remota possibilidade de re-sentir.

Suas curvas não provariam qualquer alteração,
Não formariam as elípticas e inevitáveis deformações do contato.

Seus conjuntos continuariam vazios
Sem elemento que os preenchesse.

Mas, empurrados ao confronto,
testaram a Física, reduziram espaços.
Enfrentaram resistências que limitavam a soma,
Multiplicaram as possibilidades horizontais.

Quando se imaginavam vencidos,
Comparsas, traçaram a angulação perfeita,
E os dois se descobriram. Ainda retas, mas transversais.
(MLCM)



***Falaram-me que o destino se diverte conosco/Que não nos dá nada e que nos promete tudo/Parece que a felicidade está no alcance de nossas mãos,/Então a gente estende a mão e se descobre louco/Portanto alguém fala para mim.../Que você ainda me ama,/Foi alguém que me disse que você ainda me ama/Será isto possível então?
(Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit)