sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Insônia

A madrugada me abriga poeta.
Foge a expectativa de ver Morfeu se aproximar
As palavras entram em ebulição
Pedindo um lugar no papel.
A noite é o jardim onde semeio
Dúvida, anseio e esperança.
A noite me abriga mulher
Me brinca criança.
Quando o silêncio impera
Faz-se euforia interna
Minh’ alma entra em festa
Meus olhos se abrem arregalados
Sou iluminista e revolucionária.
Incendiária, lidero multidões.
Escrevo o manifesto dos loucos
E recito publicamente entre quatro paredes.
Próximo passo: resgatar a sanidade.
À noite, infinita enquanto noite,
O passado me visita
Ganha a forma desafiante da inspiração
Ou se traveste de nostalgia.
Os cães ladram e a carruagem estaciona,
Enquanto dorme a cidade.
Sobra tempo para vestir cada ilusão
E desfilar pelo mármore cristalizado
Construo mil cenários.
Sou múltipla persona, ser fragmentado.
Sambo na ágora, senado boquiaberto.
Sou Baco e Apolo na festa do vinho.
Toureio na Acrópole para as ruínas do Parthenon.
A noite fricciona em minha pele
A aspereza da solidão
E a tez aveludada das possibilidades.
À noite posso perder o ritmo e a rima
Me permito pecadinhos e heresias
E enquanto adormece a Divindade
Posso abdicar das boas maneiras,
Abrir mão do pudor e deslizar na luxúria.
Só o que me freia é a contradição.
Aquela que me alicia, também atemoriza.
Então sinto falta de ombro, mãos e conivência.
É quando durmo, embriagada de sono e ansiedade.

(Malu de Bicicleta)
***

Um comentário:

Anônimo disse...

esse poema ficou parecido com a insônia: muitas coisas acontecendo num breve espaço.
só que na insônia, breve espaço de tempo. na poesia, breve espaço de versos.
só pela leitura do poema, já se percebe o sentido de insônia.