Ela sumiu. Deixou de se comunicar. Precisava de um tempo para definir novos rumos. Daí que desde a última vez que ouvimos falar da moça, muita coisa aconteceu. Muita água rolou debaixo da ponte. E quem tem tiver fôlego que acompanhe...
O trem pára. Malu desce. Passara algumas horas vendo mato, mato e mais mato. Pensou "como é impressionante haver disputa por terra num país tão grande, com tanta terra vazia... Colocam uns bois e pronto! A terra é produtiva!"
Quando o trem parou, ela saltou. Não avistava viva alma. Só uns bois magros morro acima. Aliás, morro era o que não faltava. Não saberia descrever a vegetação, mas pensou que já não estava no Estado do Rio de Janeiro. Minas, talvez... Se ao menos encontrasse alguém que falasse “uai” ou “trem bão” - estereótipos - ela se certificaria. Se ao menos sentisse um cheirinho de pão de queijo, tutu à mineira... Humm! O estômago reclamava.
Ela caminhou até a estrada a alguns metros do trilho. Nada. Nem viva alma. Pensou que talvez fosse perigoso pegar carona com um estranho... E que outra alternativa, ora?! Para alguém que decide sair mundo afora pedalando não deveria haver tempo ruim. Acontece que ter perdido a bicicleta deixara nossa amiga viajante e desbravadora subitamente um tanto cautelosa. Não o suficiente.
Passou um caminhão e ela fez sinal. Antes da carona, veio a pergunta sem resposta: “Para onde a menina quer ir?” Qualquer lugar, ela diria. Muito vago... “Só até a próxima cidade ou o próximo posto.” Nem mais uma palavra pelos próximos quarenta minutos.
Malu dormia, quando sentiu uma mão em seu rosto. Mão áspera... Era o motorista. “Chegamos, menina”. Rapidamente, ela se ajeitou, pegou suas coisa e desceu do caminhão. “Fico por aqui mesmo, obrigada!” Descera em um lugar um tanto impróprio. Logo deu de cara com um estranho sujeito. Não tanto pelo chapéu preto ou pelos óculos escuros e grandes, pelas correntes douradas que pareciam pesar em seu pescoço ou pela calça sambando nos quadris. Não tanto pelo modo como fumava seu cigarro, levando-o à boca, tragando e soltando a fumaça, como se gozasse a cada baforada no vazio. Não era nada disso. Era o conjunto. O lugar, o contexto. O clima frio, a noite que ameaçava cair, um cachorro cheio de feridas purulentas que se esgueirava ao redor da lixeira disputando com um moleque qualquer resto de comida, a luz amarela e fraca, alguns poucos caminhoneiros que devoravam a bóia quase como animais...
Malu pôs a mochila nas costas e caminhou em passou lentos, como quem se sente espreitado. Foi até o balcão e pediu: “Leite quente e um misto, por favor”. Um pequeno banquete para seu estomago faminto.
Bom, desculpem se a opção pelos detalhes torna a narrativa lenta. Simplesmente, quero ser fiel aos fatos.
Uma pausa para o café. Também tenho fome. Já continuo...
O trem pára. Malu desce. Passara algumas horas vendo mato, mato e mais mato. Pensou "como é impressionante haver disputa por terra num país tão grande, com tanta terra vazia... Colocam uns bois e pronto! A terra é produtiva!"
Quando o trem parou, ela saltou. Não avistava viva alma. Só uns bois magros morro acima. Aliás, morro era o que não faltava. Não saberia descrever a vegetação, mas pensou que já não estava no Estado do Rio de Janeiro. Minas, talvez... Se ao menos encontrasse alguém que falasse “uai” ou “trem bão” - estereótipos - ela se certificaria. Se ao menos sentisse um cheirinho de pão de queijo, tutu à mineira... Humm! O estômago reclamava.
Ela caminhou até a estrada a alguns metros do trilho. Nada. Nem viva alma. Pensou que talvez fosse perigoso pegar carona com um estranho... E que outra alternativa, ora?! Para alguém que decide sair mundo afora pedalando não deveria haver tempo ruim. Acontece que ter perdido a bicicleta deixara nossa amiga viajante e desbravadora subitamente um tanto cautelosa. Não o suficiente.
Passou um caminhão e ela fez sinal. Antes da carona, veio a pergunta sem resposta: “Para onde a menina quer ir?” Qualquer lugar, ela diria. Muito vago... “Só até a próxima cidade ou o próximo posto.” Nem mais uma palavra pelos próximos quarenta minutos.
Malu dormia, quando sentiu uma mão em seu rosto. Mão áspera... Era o motorista. “Chegamos, menina”. Rapidamente, ela se ajeitou, pegou suas coisa e desceu do caminhão. “Fico por aqui mesmo, obrigada!” Descera em um lugar um tanto impróprio. Logo deu de cara com um estranho sujeito. Não tanto pelo chapéu preto ou pelos óculos escuros e grandes, pelas correntes douradas que pareciam pesar em seu pescoço ou pela calça sambando nos quadris. Não tanto pelo modo como fumava seu cigarro, levando-o à boca, tragando e soltando a fumaça, como se gozasse a cada baforada no vazio. Não era nada disso. Era o conjunto. O lugar, o contexto. O clima frio, a noite que ameaçava cair, um cachorro cheio de feridas purulentas que se esgueirava ao redor da lixeira disputando com um moleque qualquer resto de comida, a luz amarela e fraca, alguns poucos caminhoneiros que devoravam a bóia quase como animais...
Malu pôs a mochila nas costas e caminhou em passou lentos, como quem se sente espreitado. Foi até o balcão e pediu: “Leite quente e um misto, por favor”. Um pequeno banquete para seu estomago faminto.
Bom, desculpem se a opção pelos detalhes torna a narrativa lenta. Simplesmente, quero ser fiel aos fatos.
Uma pausa para o café. Também tenho fome. Já continuo...
4 comentários:
Mas são os detalhes que enriquecem a narrativa!
Boa sorte na trajetória de Malu...
Eca! Ela comeu mesmo em um lugar daqueles?
Adoro os detalhes. E o jeito que você usou pra terminar o post. Um cafezinho sempre cai muito bem.
Onde está Malu sem bicicleta? Sabe, eu tenho uma tia em Ipatinga, se precisar, a Malu pode ficar por lá uns tempos...
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