O copo estava sujo. No leite boiava a nata. Malu detesta nata. Imaginou que, se pedisse para a moça coar, os olhos daqueles senhores se convergiriam em sua direção. Não era o lugar próprio para frescuras desse tipo. Tentou beber se esquivando da nata. Quanto ao misto, já fora quente um dia.
Enquanto ela comia, notou que o sujeito do cigarro não desviava os olhos. Se esforçou para ignorá-lo, mas isso parece extremamente difícil quando nos forçamos a fazê-lo. É como numa festa, onde tentamos ao máximo não olhar na direção daquele certo rapaz. Contudo, parece que o canto do olho age involuntariamente nessas ocasiões. Bom, neste caso, Malu não desejava que aquele sujeito a abordasse e o canto de seu olho parecia agir guiado por um instinto de sobrevivência. A cada movimento denunciado pelo barulho das correntes, Malu estremecia, temendo que ele se aproximasse. Não se aproximou. Não naquele momento.
Terminando de degustar o banquete, ela procurou se informar sobre a possibilidade de encontrar um cantinho para se recostar até o amanhecer. Não haveria outro jeito.
A alguns metros dali encontrou uma meia dúzia de casas. Famílias construíram seus barracos na beira da estrada. Um dia ainda serão despejadas por alguém que chegará dizendo que quer desenvolver a região pá ta ti, pá ta ta... E vai ser patada para todo lado se alguém ousar dizer que não sai.
Malu dormiu numa casa de família. Uma grande família. Pessoas simples, mas bastante atenciosas. Num mesmo cômodo dormiam pai, mãe e cinco filhos. Como sempre cabe espaço para mais um ou mais uma... Coluna castigada e a viajante se esticou num cantinho apertado da casa, quase junto da porta que dava para a varanda. Mais um pouco dormiria ao relento.
Já caía tranqüila nos braços de Morfeu quando nossa amiga foi acordada por um choro. Um choro miúdo, fraquinho, como se fosse abafado pelas mãos de um sujeito asqueroso que no meio da noite procura um corpo novo, rosadinho e... “Sai de cima dela, seu porco imundo!”, quase gritou. Antes que o fizesse, Malu viu que era a mais velha das filhas e, na verdade, não era propriamente um choro. Não era dor, concluiu. Deixou os dois sozinhos.
De seu colchão, próximo à porta, viu um senhor sair ajeitando as calças. O barulho das correntes não deixou dúvidas. Ao amanhecer, a filha mais velha foi a primeira a se levantar. Só faltava o véu para coroar tanta candura. Embora a menina não aparentasse, já passava dos vinte. Nesses lugares apegados aos costumes mais antigos, pensou Malu, já ficava para titia. Por aquelas bandas casava-se cedo. Foi assim que uma após a outra as casas foram sendo construídas. Quem casa, quer casa. Ainda mais embuchada. Uma roça na frente, umas galinhas no fundo e por pouco não se passava fome.
Malu juntou suas coisas e foi tomar banho. O banheiro ficava um pouco acima do nível das casas, ao pé do morro. Era nojento. Em um buraco todos faziam as necessidades e aquela visitante chegou a pensar que talvez os dejetos carregados pela água das chuvas poderiam chegar até as roças. Por via das dúvidas, não ficaria para o almoço. Foi difícil se concentrar na posição em que se encontrava. Puxou a calça até os joelhos para evitar que entrasse em contato com a terra. Tudo fedia terrivelmente. Malu se agachou e... Bom, detalhes podem até serem bons para reforçar a veracidade dos fatos, mas há um limite.
Por trás de algumas tábuas de madeira estava escondido um corpo desnudo, que após dias finalmente se banhava com a água que caia timidamente de um chuveiro improvisado, assim como todo o resto. Malu teve a impressão de que alguém a vigiava. Talvez fosse só impressão, mas por via das dúvidas tratou de se apressar.
Enquanto ela comia, notou que o sujeito do cigarro não desviava os olhos. Se esforçou para ignorá-lo, mas isso parece extremamente difícil quando nos forçamos a fazê-lo. É como numa festa, onde tentamos ao máximo não olhar na direção daquele certo rapaz. Contudo, parece que o canto do olho age involuntariamente nessas ocasiões. Bom, neste caso, Malu não desejava que aquele sujeito a abordasse e o canto de seu olho parecia agir guiado por um instinto de sobrevivência. A cada movimento denunciado pelo barulho das correntes, Malu estremecia, temendo que ele se aproximasse. Não se aproximou. Não naquele momento.
Terminando de degustar o banquete, ela procurou se informar sobre a possibilidade de encontrar um cantinho para se recostar até o amanhecer. Não haveria outro jeito.
A alguns metros dali encontrou uma meia dúzia de casas. Famílias construíram seus barracos na beira da estrada. Um dia ainda serão despejadas por alguém que chegará dizendo que quer desenvolver a região pá ta ti, pá ta ta... E vai ser patada para todo lado se alguém ousar dizer que não sai.
Malu dormiu numa casa de família. Uma grande família. Pessoas simples, mas bastante atenciosas. Num mesmo cômodo dormiam pai, mãe e cinco filhos. Como sempre cabe espaço para mais um ou mais uma... Coluna castigada e a viajante se esticou num cantinho apertado da casa, quase junto da porta que dava para a varanda. Mais um pouco dormiria ao relento.
Já caía tranqüila nos braços de Morfeu quando nossa amiga foi acordada por um choro. Um choro miúdo, fraquinho, como se fosse abafado pelas mãos de um sujeito asqueroso que no meio da noite procura um corpo novo, rosadinho e... “Sai de cima dela, seu porco imundo!”, quase gritou. Antes que o fizesse, Malu viu que era a mais velha das filhas e, na verdade, não era propriamente um choro. Não era dor, concluiu. Deixou os dois sozinhos.
De seu colchão, próximo à porta, viu um senhor sair ajeitando as calças. O barulho das correntes não deixou dúvidas. Ao amanhecer, a filha mais velha foi a primeira a se levantar. Só faltava o véu para coroar tanta candura. Embora a menina não aparentasse, já passava dos vinte. Nesses lugares apegados aos costumes mais antigos, pensou Malu, já ficava para titia. Por aquelas bandas casava-se cedo. Foi assim que uma após a outra as casas foram sendo construídas. Quem casa, quer casa. Ainda mais embuchada. Uma roça na frente, umas galinhas no fundo e por pouco não se passava fome.
Malu juntou suas coisas e foi tomar banho. O banheiro ficava um pouco acima do nível das casas, ao pé do morro. Era nojento. Em um buraco todos faziam as necessidades e aquela visitante chegou a pensar que talvez os dejetos carregados pela água das chuvas poderiam chegar até as roças. Por via das dúvidas, não ficaria para o almoço. Foi difícil se concentrar na posição em que se encontrava. Puxou a calça até os joelhos para evitar que entrasse em contato com a terra. Tudo fedia terrivelmente. Malu se agachou e... Bom, detalhes podem até serem bons para reforçar a veracidade dos fatos, mas há um limite.
Por trás de algumas tábuas de madeira estava escondido um corpo desnudo, que após dias finalmente se banhava com a água que caia timidamente de um chuveiro improvisado, assim como todo o resto. Malu teve a impressão de que alguém a vigiava. Talvez fosse só impressão, mas por via das dúvidas tratou de se apressar.
3 comentários:
Malu, Malu... Já não te disse para não se meter com gente estranha?!
Ai, até o banho é nojento! Adorei o começo!
Me diz QUEM é esse porco chovinista que está perseguindo a Malu! Diz o NOME dele! Eu só quero o NOME!!!
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