Passando de longe... vindo.
De cá o perfume de lá.
E vem, de preto, com preto.
E as pernas, e os braços,
Irrompendo, morenos, da roupa leve, suave.
Negra, naquele fim de tarde que se confunde com o começo da noite,
Quando o escuro se amálgama ao claro,
Quando essa mistura é inseparável,
Quando o ar se excita diferentemente,
E a luminosidade é mais sensual.
E os cabelos, de perto,
Castanhos.
Mas, só de perto.
Porque as cores, às vezes, me enganam.
E o sorriso, discreto.
Acho que não. Sei o que não sei.
Decifrável?
Sei que sei dos lábios,
Finos, rosas, macios,
Que dizem, o que vem de dentro, moderadamente,
Suavemente, pequeninamente, e apequenando-se, quem sabe confusos.
Enfim, como ela, dengosa, em si.
Meio aérea.
Mas a conversa flui, vai.
Vem ás vezes, também.
Atropela os pratos vazios em cima da mesa.
E enquanto das mãos delas o cope foge,
Às minhas ele vem a galope, indelicado.
Incerteza.
E a sobremesa vem com o doce de uns bejinhos.
Parcos, é verdade, é que restaurante não é apropriado.
Bacana o local, entretanto.
Tudo corre bem, legal.
E certo de que o carinho da última vez
do primeiro momento foi-se.
Não é o mesmo, agora.
Estranho.
E com o avanço da noite,
Quando a languidez é vencida pela lascívia,
Quase que imediatamente chega a letargia.
Hora de ir embora.
Dia de trabalho na manhã seguinte.
E gosto dela.
E do perfume que deixa em mim.
Satisfação pela noite agradável.
E uma certeza, daquelas que nos deixa tranqüilo para o dia seguinte.
Que tudo que podia ter feito, fiz.
Estou fazendo.
E um dia, quem sabe,
Não estarei numa tarde nublada,
E muito vento,
Com o braço direito prostrado na perna esquerda,
Com o queixo afundado na mão direita,
a pensar no que podia ter sido,e que não foi.
E assim, pois, tento, e continuo.