Voltando... Por que mesmo fiz essa enorme pausa?! Lembrei! É que, mesmo vivendo na cidade, espaço urbano, tenho o prazer de escutar diária e pontualmente dois sons que me remetem para o fugere urbem do parnasianismo: o blém blém do sino e o co-ró-có-có do galo. O primeiro chamando os fiéis para a missa, geralmente às 18 horas. O segundo despertando os trabalhadores para o batente por volta das cinco da matina . E há quem atenda a um ou ao outro. No sábado que saí para passear de bicicleta, juro que ouvi o tal chamado . Mas cada um interpreta do jeito que sabe. E lá fui eu para minha divina pedalada em pleno horário de verão, com uma hora a mais de dia para colocar alguns pensamentos em ordem. Devo admitir que isso nunca funciona. Volto e eles estão ainda mais embaralhados. Mas nada como o vento no rosto, um som no ouvido, fim de tarde... “I’m walking on sunshine iê iê...”
Quando eu estava prestes a subir a Estrada Fróes na direção de São Francisco, a bicicleta deu claros sinais de que algo não ia bem. Parecia uma ironia metafórica que ao pedalar eu não conseguisse sair do lugar e, claro, tombasse para o lado. Duas, três, cinco vezes tentei empurrar o pedal, mas ele cumpria a volta inteira sem transmitir a força. O trinômio pé-pedal-corrente não estava dando resultado. Tentei usar meus conhecimentos e dar um jeito, mas só o que consegui foi sujar minhas mãos de graxa. Enquanto isso, o sol ia se escondendo no horizonte, afundando até chegar no Japão. Ao menos era o que eu imaginava quando pequena. Bem pequena, garanto! Com mãos e rosto pretos de graxa, resolvi parar por dez segundos e admirar um pedacinho do show, como quem entra no teatro, espia o ato final da peça e já guarda a impressão de ter visto um grande espetáculo.
A bicicleta?! Nada... Mas depois vou tentar novamente consertá-la. Acho que há épocas que são assim mesmo. Há tempo de pedalar e tempo de parar e apenas contemplar. Claro que uma mente aquariana não se conforma muito em ser apenas espectadora, mas vi que às vezes não há muito o que fazer quando o trinômio pé-pedal-corrente resolve não funcionar. Ainda bem que existe o pôr-do-sol...