Em quinze dias ela aprendeu a andar de bicicleta. Tombou algumas vezes. Chegou de lábios inchados e vermelhos, joelhos ralados, manchas roxas... Um aprendizado dolorido e colorido. Ela sobe na bicicleta e precisa de uma mãozinha amiga e "prima" para se equilibrar. Mas em pouco tempo ela já consegue tomar impulso sozinha. E o primeiro passo para o equilíbrio é não pensar no desequilíbrio. De queda em queda as duas rodas vão se tornando suficientes e ela aprende a frear no momento certo: antes de colidir com postes, meio-fio, pedestres, carrinho de pipoca, árvore, banco de praça e o que for. Arrastada de seu tempo costumeiro, a experiência de aprender a deslocar-se sobre duas rodas chega para ela no momento em que já conquistou o equilíbrio da maturidade. Antes, quando ainda alimentava uma infantil instabilidade emocional, lhe fora vetada uma prática que só cabia aos homens; abrir as pernas em posição tão erótica quanto aquela que exige a pervertida estrutura de uma bicicleta. A mentalidade de um adulto, que impregnou o brinquedo com uma pudica promiscuidade, retardou o aprendizado dela, que agora sem nenhum pudor, solta cada perna para um lado do banco e faz sobre os pedais a força transmitida para a roda traseira através da corrente. E, exercitando o físico e a Física, ela comprova a cada pedalada a equação básica V = ∆S / ∆t. Ou seja: a vitória é igual à Variação de Suor dividida pela Variação de tombos.
Continua...
Continua...
*Este texto foi escrito com base na experiência real da mais nova ciclista de Niterói-RJ.