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Torço para que a árvore continue viva...
Estive lá em 2007. Foi impressionante ver aquele amontoado de pessoas dividindo minúsculos espaços - uns ainda mais apertados e comedidos que outros. Entre as melhores coisas que vivi ao longo do breve contato com o jornalismo foi conhecer melhor as comunidades de Niterói, e atravessar 'fronteiras' (invisíveis) nunca ultrapassadas por mim - por receio e desconhecimento. O primeiro produzido pelo último.
Quando possível, me auto-escalava para 'pautas sociais'. Em algumas oportunidades, percorri cantos alheios à Niterói que conhecia até então. Distante da cobertura policial, a qual essas áreas estão quase sempre relacionadas, procurava novas abordagens. E uma delas me deixou particularmente satisfeita.
(Enquanto escrevo este texto, mais uma viatura do Corpo de Bombeiros percorre ruas próximas. O barulho vem se aproximando. Indica pressa e urgência.)
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Num domingo de 2007, numa visita 'exploratória' pelo Morro do Estado, durante meu esvaziado plantão de fim de semana, fui levada a conhecer algumas famílias. Aquelas pessoas há tempos buscavam permissão e ajuda para remover uma enorme árvore que ameaçava desabar e atingir as casas semeadas ao seu redor.
A árvore era enorme, cheia de galhos e raízes que se misturavam com as casas ali assentadas. Após conversar com alguns moradores fui me dando conta de que tratavam-se de famílias migrantes, nordestinas, que viviam no pé da enorme árvore, e formavam elas próprias uma mesma árvore genealógica. Um era irmão do outro, que era primo daquele, que era sobrinho de alguém mais adiante, que era filho... E por aí seguia.
Num domingo de 2007, numa visita 'exploratória' pelo Morro do Estado, durante meu esvaziado plantão de fim de semana, fui levada a conhecer algumas famílias. Aquelas pessoas há tempos buscavam permissão e ajuda para remover uma enorme árvore que ameaçava desabar e atingir as casas semeadas ao seu redor.
A árvore era enorme, cheia de galhos e raízes que se misturavam com as casas ali assentadas. Após conversar com alguns moradores fui me dando conta de que tratavam-se de famílias migrantes, nordestinas, que viviam no pé da enorme árvore, e formavam elas próprias uma mesma árvore genealógica. Um era irmão do outro, que era primo daquele, que era sobrinho de alguém mais adiante, que era filho... E por aí seguia.
Enfim a pauta da árvore que ameaçava famílias não chegou a agradar tanto quanto a ideia de retratar a vida de uma comunidade de migrantes nordestinos em torno daquele enorme pé-de-não-sei-o-quê. A matéria por fim ocupou as páginas centrais do caderno de Niterói do JB.
Hoje, ao receber o e-mail abaixo reproduzido, e tendo ouvido no rádio a contabilização dos cadáveres desse lado de cá da Baía, me lembrei daquela enorme família - de seus galhos e ramificações. Bateu uma curiosidade de saber como estão. Será que a velha árvore continua de pé? Será que os moradores ainda dividem espaço com aquelas enormes raízes e galhos? Teria a árvore sido retirada para evitar tragédias futuras como as que vejo noticiarem no rádio e na TV? Como estão aqueles quase conterrâneos (sou filha de nordestino e não consigo deixar de me sentir um pouco pertencente àquelas bandas mais próximas do Equador)? Incomodada, vou amaciar minha curiosidade... Mas como seria bom 'pescar' das ondas do rádio - ou de algum outro veículo - alguma informação. Qualquer uma... Ou melhor, uma das boas! Tento me convencer de que notícia ruim chega rápido. Agora pouco ligou um amigo contando sobre a morte de distantes conhecidos naquele mesmo morro.
Hoje, ao receber o e-mail abaixo reproduzido, e tendo ouvido no rádio a contabilização dos cadáveres desse lado de cá da Baía, me lembrei daquela enorme família - de seus galhos e ramificações. Bateu uma curiosidade de saber como estão. Será que a velha árvore continua de pé? Será que os moradores ainda dividem espaço com aquelas enormes raízes e galhos? Teria a árvore sido retirada para evitar tragédias futuras como as que vejo noticiarem no rádio e na TV? Como estão aqueles quase conterrâneos (sou filha de nordestino e não consigo deixar de me sentir um pouco pertencente àquelas bandas mais próximas do Equador)? Incomodada, vou amaciar minha curiosidade... Mas como seria bom 'pescar' das ondas do rádio - ou de algum outro veículo - alguma informação. Qualquer uma... Ou melhor, uma das boas! Tento me convencer de que notícia ruim chega rápido. Agora pouco ligou um amigo contando sobre a morte de distantes conhecidos naquele mesmo morro.
Torço para que a árvore genealógica que conheci há três anos não tenha perdido um galho sequer. E que outras sejam poupadas.
Amém.
ps1: Algo me diz que as dezenas de edifícios, que surgem nesta cidade como se da terra brotassem do dia pra noite no lugar de velhas casas, não contribuem para uma urbanização planejada e responsável. Mas é só uma intuição...
Vale conferir! Ex-vereador fala, em 2007, sobre caos em Niterói.
ps2: Projeto de Lei iniciou o debate em 2007 sobre proibição de novas licenças de construção de prédios na cidade
http://bit.ly/bpuSJc
ps2: Projeto de Lei iniciou o debate em 2007 sobre proibição de novas licenças de construção de prédios na cidade
http://bit.ly/bpuSJc
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Informe da APN - Agencia Petroleira de Noticias
Morro do Estado enterra seus mortos
Os moradores do Morro do Estado, favela de Niterói, enterraram nestaquarta-feira, 7, três pessoas, vítimas das enchentes que assolaram a regiãodo Grande Rio. Mas a partir de amanhã, independente da continuidade das buscas, já se mobilizam, através da Associação de Moradores, parareivindicar obras de contenção de encostas e limpeza. A assembléia está marcada para as 10h de quinta (8/4), na sede da associação. Mais informações pelo telefone (21) 76061552 , com Sebastião Alves (Tão). O município de Niterói contabilizou o maior número de mortes, em decorrênciadas enchentes. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, o número oficial no Estado do Rio de Janeiro (até as 14h, de quarta, 7) era de 113 pessoas, 54 registradas em Niterói, 43 no Rio, 12 em São Gonçalo e outrasNilópolis, Paulo de Frontin, Magé e Petrópolis. Mas o número de vítimas devesubir. Dezenas de pessoas continuam desaparecidas. Só em Niterói, 47 pessoasainda estão sendo procuradas entre os escombros. O número de feridos edesabrigados não para de crescer. Ainda em Niterói, oito bombeiros ficaram feridos durante um resgate. O prefeito da cidade, Jorge Roberto Silveira, decretou luto de sete dias e estado de calamidade pública. As aulas nas escolas municipais estão suspensas por tempo indeterminado.
Moradores reclamam da indiferença do poder público
A Associação de Moradores do Morro do Estado está entre as entidades fundadoras do Fórum contra a Privatização do Petróleo e Gás, em março de 2008, e mantém um jornal que é distribuído regularmente na comunidade. Seus diretores afirmam que, há anos, existe um grande número de pedidos de obras e serviços públicos junto à Prefeitura Municipal, a maior parte alertando para o risco de deslizamento das encostas, mas que não costumam ser atendidos. Representantes da associação afirmam que as reivindicações das populações mais pobres raramente são consideradas. Nesse momento de luto,esperam conseguir, com muita mobilização, sensibilizar as autoridades.
Posto de arrecadação de donativos
O Clube Canto do Rio, no Centro, foi transformado num ponto de abastecimentoe já está recebendo doações para as vítimas das chuvas. O clube fica na Rua Visconde de Rio Branco, 701, no centro da cidade (próximo às Barcas). O telefone para contato é (21) 26208018. Serão bem vindos colchonetes, cobertores, alimentos não perecíveis, leite em pó, roupas de cama, vestuárioe produtos de limpeza. A Prefeitura de Niterói divulgou que 12 escolas municipais estão preparadas para receber os desabrigados. São elas: Rachid (Santa Bárbara); ErnaniMoreira Franco (Fonseca); Antonio Vieira (Morro do Estado); João Brasil(Morro do Castro); Paulo Freire (Fonseca); Nilo Neves (Boa Vista), JoséAnchieta ( Morro do Céu) e Senador Vasconcelos Torres (Jacaré). Já a escola estadual Capistrano, também em Santa Bárbara, serve de Posto de Alimentação.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias.
2 comentários:
Parabéns pelo texto. Quem dera todos jornalistas tivessem tamanha consciência. Seu texto ao mesmo tempo que flui tão bem, demonstra comprometimento e preocupação com os rumos de nossa cidade. Saboroso ler um pouco de vida nesse vasto mundo que é a internet
Parabéns Malu. Belo texto com muita sensibilidade, também me emociono ao ver tantos conterrâneos em situações como essa, espero que a árvore continue de pé.
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