quinta-feira, agosto 03, 2006

Transversais

On me dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou
Pourtant quelqu'un m'a dit /Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?***


Poderiam ser como duas retas paralelas
E, reversos, nunca se cruzariam.
Ou, como na matemática, ansiariam até um tempo no infinito.

Poderiam ser como as perpendiculares,
Mas os corpos pesariam, desejando estreitar os 90º de distância.

Poderiam formar ângulos variados,
mas ainda sofreriam uma dolorosa ânsia,
esperando um encontro pouco obtuso, menos oblíquo.

Fosse assim, seguiriam como as retas
cada um em seu inabalável percurso.
Buscariam cada um seus sentidos e direções próprias.
Continuariam fiéis às fronteiras que, geometricamente,
separam suas formas.

Um não saberia da existência do outro.
E por isso, não conheceriam a vontade de rever, reencontrar.
Sequer esperariam pela remota possibilidade de re-sentir.

Suas curvas não provariam qualquer alteração,
Não formariam as elípticas e inevitáveis deformações do contato.

Seus conjuntos continuariam vazios
Sem elemento que os preenchesse.

Mas, empurrados ao confronto,
testaram a Física, reduziram espaços.
Enfrentaram resistências que limitavam a soma,
Multiplicaram as possibilidades horizontais.

Quando se imaginavam vencidos,
Comparsas, traçaram a angulação perfeita,
E os dois se descobriram. Ainda retas, mas transversais.
(MLCM)



***Falaram-me que o destino se diverte conosco/Que não nos dá nada e que nos promete tudo/Parece que a felicidade está no alcance de nossas mãos,/Então a gente estende a mão e se descobre louco/Portanto alguém fala para mim.../Que você ainda me ama,/Foi alguém que me disse que você ainda me ama/Será isto possível então?
(Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit)

Um comentário:

Stephanie disse...

Seu poema me acertou bem nas entranhas.

Obrigada, Malu!