Um professor de Sociologia me dizia que as novelas podem ser matéria-prima para compreensão de uma sociedade ou das representações que são feitas sobre ela. O último capítulo de Caminho das Índias, exibido ontem, dá um bom exemplo dessa suposta função das tramas televisivas.
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Uma criança vai ao Juíz para anular seu casamento com o noivo indesejado. É abordada pela autora Glória Perez a tradição indiana do casamento arranjado entre crianças, apesar de leis contrárias. Bom, a jovenzinha de traquejos adultos consegue anular o matrimônio e corre para contar a novidade ao amigo dalit, um excluído sem casta.
Ela comemora, pois poderá escolher, no futuro, "um marido instruído e moderno". O pequeno dalit expressa seu desejo de ser o escolhido e sonda suas chances após alcançar as qualidades destacadas pela jovem de casta superior. Pela fala do pretendente, com suas prentensões de enriquecimento, "ganhar dinheiro" é igual a ser "instruído e moderno". A aceitação é imediata e um 'pacto de amor' é feito entre os pequenos de diferentes castas.
Interessante como a distinção originária do berço (a diferença de castas) é trocada por outra, caracterizada pelo dinheiro, ou seja, pela posição econômica do jovem pretendente. O mesmo valendo para sua versão adulta, representada pelo ator/apresentador Márcio Garcia. Fica a idéia de que a superação de uma distinção se dá pela criação de outra; vale dizer que a nova forma de diferenciação é racionalizada para parecer tão normal e natural quanto a que pretende substituir.
O marido moderno é oposto ao marido atrasado. Assim como a nova e moderna forma de diferenciação entre pessoas (ou pretendentes) se sobrepõe àquela outra, atrasada. Somos o que conseguimos conquistar com nosso esforço diário, segundo a máxima do self made man. E o 'fracasso' é sempre resultado de pouco empenho pessoal e nunca de condições econômicas estruturais, injustas e desiguais. Afinal, somos todos iguais perante a lei dos homens (e de Deus).
The end! Ou melhor, Fim.
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Uma criança vai ao Juíz para anular seu casamento com o noivo indesejado. É abordada pela autora Glória Perez a tradição indiana do casamento arranjado entre crianças, apesar de leis contrárias. Bom, a jovenzinha de traquejos adultos consegue anular o matrimônio e corre para contar a novidade ao amigo dalit, um excluído sem casta.
Ela comemora, pois poderá escolher, no futuro, "um marido instruído e moderno". O pequeno dalit expressa seu desejo de ser o escolhido e sonda suas chances após alcançar as qualidades destacadas pela jovem de casta superior. Pela fala do pretendente, com suas prentensões de enriquecimento, "ganhar dinheiro" é igual a ser "instruído e moderno". A aceitação é imediata e um 'pacto de amor' é feito entre os pequenos de diferentes castas.
Interessante como a distinção originária do berço (a diferença de castas) é trocada por outra, caracterizada pelo dinheiro, ou seja, pela posição econômica do jovem pretendente. O mesmo valendo para sua versão adulta, representada pelo ator/apresentador Márcio Garcia. Fica a idéia de que a superação de uma distinção se dá pela criação de outra; vale dizer que a nova forma de diferenciação é racionalizada para parecer tão normal e natural quanto a que pretende substituir.
O marido moderno é oposto ao marido atrasado. Assim como a nova e moderna forma de diferenciação entre pessoas (ou pretendentes) se sobrepõe àquela outra, atrasada. Somos o que conseguimos conquistar com nosso esforço diário, segundo a máxima do self made man. E o 'fracasso' é sempre resultado de pouco empenho pessoal e nunca de condições econômicas estruturais, injustas e desiguais. Afinal, somos todos iguais perante a lei dos homens (e de Deus).
The end! Ou melhor, Fim.
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21 de setembro de 2009
Comentário da Priscila, que veio pedalar por aqui e aproveitou para deixar sua opinião sobre a crítica sociológica (sim, e por que não?) do último capítulo de Caminho das Índias...
Gostaria de dar minha humilde opinião sobre o texto Novela e Sociologia no seu blog: Concordo totalmente com seu professor que uma análise das novelas pode auxiliar e muito na compreensão de nossa sociedade. Quando a personagem Anusha diz querer um marido "instruído e moderno" acredito que seja um homem instruído academicamente e moderno segundo às tradições indianas. Ter dinheiro não tem o mesmo significado de ser "instruído e moderno", pelo menos para os indianos. Existem dalits ricos e brahmanes pobres na Índia. Dinheiro e casta não tem o mesmo valor por lá. A personagem de Hari, o menino dalit, é pretendente de Anusha há muitos capítulos não por uma promessa mas porque os dois assim o desejam. A instrução acadêmica é um requisito para o "pacto de amor" porque a educação é muito importante para os indianos. E ser moderno vai por tabela porque um dalit que respeitas as tradições aceita resignado o seu "destino" e nunca se casaria com uma vaishya. O sistema de castas não é substituído pelo nosso das classes sociais, constituído pelo dinheiro. Os dois são cruéis, mas existem em ambas sociedades. A personagem de Márcio Garcia considero um pouco diferente. Um dalit educado no Ocidente, só entende sua condição na Índia sob o prisma ecônomico. Acredita que será aceito quando tiver dinheiro, o que não acontece. Depois crê que a inclusão se dará pelo casamento com uma mulher de casta e rica, mas em nenhum momento Glória realiza esse desejo dele. Se essa diferenciação pelo dinheiro fosse a utilizada pela Glória Perez, Maya se casaria com Bahuan logo nos primeiros capítulos, porque os dois tinham posses. Até acredito que na sinopse original ela teria dado esse final feliz para os dois, mas não sei de que forma. Seriam ricos porque não sei se você percebeu, mas ao contrário da família dalit, todos do núcleo indiano eram ricos, inclusive o Bahuan (Márcio Garcia). Mas provavelmente morariam no Brasil ou na Inglaterra, porque na Índia sempre seriam dalits independente da conta bancária. Sou noveleira há muito tempo e com minha formação em História, pude perceber melhor essas nuances na narrativa dos autores. Discordo de alguns pontos da obra da Glória Perez como a caricatura que ela faz de algumas personagens, mas acho que ela é uma das poucas escritoras/escritores que tratam o universo de outras culturas com tanto respeito. Aliás ela é historiadora. Beijocas, Priscila .
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