“Entendo sua preocupação com essa situação e por isso queria te dizer, em caixa alta:
NÃO SE PREOCUPE.
Eu não estou chateado com você, nem poderia. Entendo bem que tudo isso tenha te causado certa angústia e poderia apostar que parte dela vem do fato de que você gosta (um pouquinho) de mim.
Da minha parte, queria apenas que você não me tratasse como um estranho nos momentos em que nos encontramos. Quero sempre sentir que você pode estar próxima ainda que, nesse momento, não possamos estar do jeito que eu gostaria que estivéssemos e que, espero, seja também o seu desejo, ainda que contido.
A não ser que você queira me dizer coisas a esse respeito, e prefira que seja pessoalmente, não vejo porque sentarmos pra conversar como você sugeriu. Quero sim, conversar com você como conversamos naquela delicatessem, sobre nossas vidas. Foi, sem dúvida, uma conversa maravilhosa!
Um beijo meu”.
Porque as cartas perdem espaço para os e-mails?! Fosse tudo aquilo escrito à mão soaria ainda mais romântico e ainda mais gostoso de ser lido e relido. O anonimato do autor só não superava em beleza o costume dos amantes de deixarem suas iniciais. Mas a ausência de um nome ao final dava um toque especial, como se reforçasse a idéia de que aquelas palavras só poderiam ter uma única origem.
Mais uma vez: porque as cartas perdem espaço para os e-mails?! Fosse enviada pelo correio selada, carimbada e registrada, chegaria junto com as contas e outras correspondências. Causaria um espanto no primeiro segundo e logo se destacaria, não por algo à mais, mas pela ausência. Não, não seria nunca uma ausência que atormenta. Poderia vir sem o remetente, deixando completo o falso ar de suspense. Falso porque ela, e apenas ela, saberia quem era autor das palavras e do beijo final.
“Um beijo meu”...
A inversão do pronome possessivo, que sempre vem à frente, demarcando a posse (minha caneta, minha vida, meu amor, minha namorada...) encerrava o e-mail com um charme todo especial.
Se ele escrevesse apenas “Um beijo”, seria um beijo solto, que poderia se perder pelo caminho e nem chegar até o destino. Mas porque “Um”, apenas 1, ou “Um” beijo qualquer? Logo ela se deu conta de que a indefinição daquele artigo representava a incerteza do que o futuro reservava para os dois.
Poderia ser “Um” entre vários ou poderia ser “Um” à espera daquele que fosse “O beijo”. Como ele escrevera em caixa alta, ela tentou não se preocupar e, embora ainda lhe restasse algumas centenas de palavras para serem ditas, ela concordou que seria melhor não correr o risco de pecar pelo excesso. Calou-se. Calou-se, buscando não alimentar em si expectativas de novamente voltar a falar...
NÃO SE PREOCUPE.
Eu não estou chateado com você, nem poderia. Entendo bem que tudo isso tenha te causado certa angústia e poderia apostar que parte dela vem do fato de que você gosta (um pouquinho) de mim.
Da minha parte, queria apenas que você não me tratasse como um estranho nos momentos em que nos encontramos. Quero sempre sentir que você pode estar próxima ainda que, nesse momento, não possamos estar do jeito que eu gostaria que estivéssemos e que, espero, seja também o seu desejo, ainda que contido.
A não ser que você queira me dizer coisas a esse respeito, e prefira que seja pessoalmente, não vejo porque sentarmos pra conversar como você sugeriu. Quero sim, conversar com você como conversamos naquela delicatessem, sobre nossas vidas. Foi, sem dúvida, uma conversa maravilhosa!
Um beijo meu”.
Porque as cartas perdem espaço para os e-mails?! Fosse tudo aquilo escrito à mão soaria ainda mais romântico e ainda mais gostoso de ser lido e relido. O anonimato do autor só não superava em beleza o costume dos amantes de deixarem suas iniciais. Mas a ausência de um nome ao final dava um toque especial, como se reforçasse a idéia de que aquelas palavras só poderiam ter uma única origem.
Mais uma vez: porque as cartas perdem espaço para os e-mails?! Fosse enviada pelo correio selada, carimbada e registrada, chegaria junto com as contas e outras correspondências. Causaria um espanto no primeiro segundo e logo se destacaria, não por algo à mais, mas pela ausência. Não, não seria nunca uma ausência que atormenta. Poderia vir sem o remetente, deixando completo o falso ar de suspense. Falso porque ela, e apenas ela, saberia quem era autor das palavras e do beijo final.
“Um beijo meu”...
A inversão do pronome possessivo, que sempre vem à frente, demarcando a posse (minha caneta, minha vida, meu amor, minha namorada...) encerrava o e-mail com um charme todo especial.
Se ele escrevesse apenas “Um beijo”, seria um beijo solto, que poderia se perder pelo caminho e nem chegar até o destino. Mas porque “Um”, apenas 1, ou “Um” beijo qualquer? Logo ela se deu conta de que a indefinição daquele artigo representava a incerteza do que o futuro reservava para os dois.
Poderia ser “Um” entre vários ou poderia ser “Um” à espera daquele que fosse “O beijo”. Como ele escrevera em caixa alta, ela tentou não se preocupar e, embora ainda lhe restasse algumas centenas de palavras para serem ditas, ela concordou que seria melhor não correr o risco de pecar pelo excesso. Calou-se. Calou-se, buscando não alimentar em si expectativas de novamente voltar a falar...
Mas antes se permitiu uma último pensamento, daqueles que quase saem em voz alta de tão espontâneos.
Lembrou-se que no rótulo destacado de um vinho chileno como lembrança de um encontro inusitado ele escrevera: "adorável estranha". Os dois assinaram e dataram aquele vestígio da história, que ela logo correu para buscar dentro da bolsa. Em seguida, releu: "queria apenas que você não me tratasse como um estranho nos momentos em que nos encontramos".
Com o rótulo em uma das mãos, ela percebeu que não deixaria de ser adorável, tampouco estranha.
Deixou aquilo tudo de lado e foi andar de bicicleta...
2 comentários:
Que lindo, Malu.
Alguns dos seus textos tem uns ares de desejo muito bonitos, o que me desespera é a sensação de que esse desejo fica ali, latejando, suspenso no ar, quase palpável, mas não incendeia [e eu torço muito para que seja um recurso literário para capturar o leitor].
Essa despedida "Um beijo meu" é uma coisa única. Para alguém cuja boca que recebe re-conhece esse beijo entre outros tantos. "Um" porque nele só concentra toda uma doçura, imensa. Drummond dizia que o "mundo é grande, e cabe no espaço de beijar", deve ser num beijo desses.
Ah! e sobre escrever e tirar a roupa (obrigada pelo seu comentário!): o problema não é ser descoberta nas entrelinhas, mas a pretensão de certos leitores que pensam já ter visto tudo, só porque leram umas palavrinhas.
beijos!
Foi andar de bicicleta, é? hahahaha
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