Malu segurava em suas mãos algo estranho. Peludo, corpo mole... Um bicho?! Talvez... Uma espécie de cola na parte inferior a impedia de soltá-lo. Pensou o que teria acontecido para que aquele homem se afasta-se sem que fosse preciso um grito ou um chute estratégico, nada. Apenas se debatera por alguns instantes. Com as pernas imobilizadas, articulou os braços aleatoriamente até que o homem se afastou, sem que Malu tivesse escutado o juiz determinar o fim da luta. Vitória? De quem?!
Seria apenas uma pausa para o golpe de misericórdia? Seria o momento de pedir clemência? Será possível que o inimigo tenha sido tomado por uma súbita compaixão, como o perseguidor de cristãos da Bíblia que se convertera? “Por que me persegues, Saulo?” Bom, sendo assim, pensou Malu, seu oponente deveria estar cego, como o fariseu, personagem bíblico atingido por uma forte luminosidade. A luz que cega é a mesma que ilustra.
Por vezes quando fecho os olhos tudo fica mais claro. Aliás, ultimamente, quanto mais os mantenho abertos menos enxergo. Já não confio no que eles me dizem. Vejo feições que não consigo interpretar e o mundo se dissimula, me pregando peças a todo instante. Malu, igualmente, recusava-se a abrir os seus olhos, tentando se desvencilhar daquele corpo estranho preso às suas mãos. Em vão. Pela respiração ofegante, teve a sensação de que o adversário apenas se preparava para um novo embate. Engano. Curiosa, arriscou um olhar de relance, temendo o que veria. Atordoada, pensou que havia outro homem além daquele com quem acabara de digladiar. Outro oponente?! Como?! Ergueu-se rapidamente. Teve nojo ao notar o vermelho que estampava a toalha jogada ao seu lado. Ainda assim, cobriu-se.
Sentado sobre os escombros daquela guerra sangrenta, um homem. Um outro homem. Cabisbaixo, humilhado... Não! Era o mesmo homem. A mesma mão ferida, os mesmos cordões pesando no pescoço, a blusa desabotoada, o peito à mostra... Era o mesmo. E estava novamente ferido.
Como explicar que Malu detinha entre seus dedos a força de seu adversário? Como imaginar que a determinação de um sujeito fosse abalada com um simples golpe desferido contra sua vaidade?! O Sansão perdera sua força e virilidade, instantanea e subitamente. Uma Dalila contrariada segurava numa das mãos as falsas mechas.
Quando se deu conta do caráter cômico da situação, Malu teve vontade de rir, mas a prudência lhe soprou ao ouvido que talvez não fosse adequado. E quem escuta essa senhora?! Dona prudência... Estamos sempre a contrariá-la. Pior se torna quando somos tomados pela dúvida que atormenta as almas barrocas, indecisas entre a catarse e a contenção:
“Mas desde o Céu a Santa Inteligência
Com doce inspiração mitiga a chama;
Onde a paixão ceda à prudência,
E a razão pode mais, que a ardente flama:
Em Deus na natureza, e na consciência
Conhece, que quer mal quem assim ama;
E que fora sacrílego episódio
Chamar à culpa amor, não chamar-lhe ódio.” (Caramuru: poema épico, de Santa Rita Durão)
(Mais uma vez destôo. Sugerirei que Malu escolha um(a) narrador(a) com menos pretensões a “eu-lírico”)
Catarse! Uma gargalhada ecoou entre os morros. Como quem desfere seguidos golpes sobre o oponente já derrotado, Malu não se conteve. Enquanto se apressava para abandonar o ringue, tripudiava. Numa das mãos, carregou seu merecido troféu, a peruca. Para trás, deixara um Sansão completamente nocauteado.
Vou fechar meus olhos por algumas horas e esperar que faça-se a luz! (Boa noite!)
Seria apenas uma pausa para o golpe de misericórdia? Seria o momento de pedir clemência? Será possível que o inimigo tenha sido tomado por uma súbita compaixão, como o perseguidor de cristãos da Bíblia que se convertera? “Por que me persegues, Saulo?” Bom, sendo assim, pensou Malu, seu oponente deveria estar cego, como o fariseu, personagem bíblico atingido por uma forte luminosidade. A luz que cega é a mesma que ilustra.
Por vezes quando fecho os olhos tudo fica mais claro. Aliás, ultimamente, quanto mais os mantenho abertos menos enxergo. Já não confio no que eles me dizem. Vejo feições que não consigo interpretar e o mundo se dissimula, me pregando peças a todo instante. Malu, igualmente, recusava-se a abrir os seus olhos, tentando se desvencilhar daquele corpo estranho preso às suas mãos. Em vão. Pela respiração ofegante, teve a sensação de que o adversário apenas se preparava para um novo embate. Engano. Curiosa, arriscou um olhar de relance, temendo o que veria. Atordoada, pensou que havia outro homem além daquele com quem acabara de digladiar. Outro oponente?! Como?! Ergueu-se rapidamente. Teve nojo ao notar o vermelho que estampava a toalha jogada ao seu lado. Ainda assim, cobriu-se.
Sentado sobre os escombros daquela guerra sangrenta, um homem. Um outro homem. Cabisbaixo, humilhado... Não! Era o mesmo homem. A mesma mão ferida, os mesmos cordões pesando no pescoço, a blusa desabotoada, o peito à mostra... Era o mesmo. E estava novamente ferido.
Como explicar que Malu detinha entre seus dedos a força de seu adversário? Como imaginar que a determinação de um sujeito fosse abalada com um simples golpe desferido contra sua vaidade?! O Sansão perdera sua força e virilidade, instantanea e subitamente. Uma Dalila contrariada segurava numa das mãos as falsas mechas.
Quando se deu conta do caráter cômico da situação, Malu teve vontade de rir, mas a prudência lhe soprou ao ouvido que talvez não fosse adequado. E quem escuta essa senhora?! Dona prudência... Estamos sempre a contrariá-la. Pior se torna quando somos tomados pela dúvida que atormenta as almas barrocas, indecisas entre a catarse e a contenção:
“Mas desde o Céu a Santa Inteligência
Com doce inspiração mitiga a chama;
Onde a paixão ceda à prudência,
E a razão pode mais, que a ardente flama:
Em Deus na natureza, e na consciência
Conhece, que quer mal quem assim ama;
E que fora sacrílego episódio
Chamar à culpa amor, não chamar-lhe ódio.” (Caramuru: poema épico, de Santa Rita Durão)
(Mais uma vez destôo. Sugerirei que Malu escolha um(a) narrador(a) com menos pretensões a “eu-lírico”)
Catarse! Uma gargalhada ecoou entre os morros. Como quem desfere seguidos golpes sobre o oponente já derrotado, Malu não se conteve. Enquanto se apressava para abandonar o ringue, tripudiava. Numa das mãos, carregou seu merecido troféu, a peruca. Para trás, deixara um Sansão completamente nocauteado.
Vou fechar meus olhos por algumas horas e esperar que faça-se a luz! (Boa noite!)
3 comentários:
ah, coitado do carequinha...
Mas... de onde veio o sangue? A Malu arrancou o escalpo dele também ou - desculpe a lerdeza - o vermelho era uma metáfora que eu não compreendi?
Vitor, o cara não havia limpado a mão machucada com a toalha da Malu??
Aproveito para registrar uma queixa: a Malu deixa seus leitores numa espera incompatível com a avidez com que queremos acompanhar a saga épica da jovem aventureira sem bicicleta. Fosse antes, os leitores dos antigos folhetins - de Balzac a Machado de Assis - ateariam fogo nas redações! Não suportariam a curiosidade para saber, por exemplo, o destino do casal Joan & Demy (Le Rhin, Victor Hugo, 1803) ou de Peri (O Guarani, José de Alencar, 1886) . Então, a autora moderna deve espelhar-se nos antigos e saciar-nos com "posts" mais frequentes. Um sesquipedal abraço.
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